“Nenhum fio de cabelo”. Essa foi a frase utilizada por uma pessoa próxima de Tânia Bonamigo, de 62 anos, que completa um ano desaparecida nesta segunda-feira (9). Para a família, o assunto é como um tabu, já que todos preferem não relembrar o desaparecimento dela, ocorrido quando, junto a amigos, ela faria uma trilha na Cachoeira Los Pagos, em São Gabriel do Oeste, a 118 quilômetros da Capital.
Ao Jornal Midiamax, a pessoa próxima à Tânia – que pediu para não ser identificada – afirmou que o desaparecimento dela ainda é um mistério. Entretanto, ela disse acreditar que muitos da família de Tânia pensam que ela não está mais viva, apesar de classificar todas as possibilidades como apenas hipóteses.
“O sentimento é de muita tristeza, e insegurança até, porque tudo é possível. A família dela é muito grande, e ninguém quer falar sobre esse assunto. Eu acho que é uma coisa meio impossível ela aparecer e voltar a entrar em contato”, opina.
A pessoa próxima também afirma não ter visto Tânia na cachoeira, já que o grupo estava em quatro carros, e ela teria ido até o local em um carro separado. Antes, ela disse terem feito uma pausa na rodoviária de São Gabriel do Oeste, para irem ao banheiro.
Questionada se acredita que Tânia pode ter pegado um ônibus ou ido para outro lugar, ela afirma que tudo são hipóteses. “É meio impossível isso, mas não sei dizer. Tudo o que eu falar serão hipóteses, e tudo é possível”, finaliza.
“A única certeza que eu tenho é que minha mãe não fugiu”
Em entrevista, a filha de Tânia se emociona ao falar sobre a incerteza vivida pela família. Ela afirma que constantemente questiona a Polícia Civil sobre as investigações do desaparecimento da mãe. “Eu ligo constantemente para perguntar e o que respondem é que seguem investigando”, alega.
A filha ainda afirma, categoricamente: “a única certeza que eu tenho é que minha mãe não fugiu”. Emocionada, ela disse que a família já sente muita dor, e que comentários feitos nas redes sociais de que ela teria fugido para o Chile causam ainda mais dor. “A internet é malvada, as pessoas inventam, falam as coisas, mas só nós sabemos o sentimento”, diz a filha.
Por fim, a filha ainda espera por respostas para conseguir lidar melhor com o desaparecimento da mãe. “Eu acho que minha mãe já partiu, mas de que forma eu não sei”, finaliza.
“Eu não desisti de encontrar a Tânia”, diz delegado
Conforme o delegado responsável pelas investigações, Fábio da Silva Magalhães, da delegacia de São Gabriel do Oeste, o inquérito ainda continua e diligências ainda são feitas para tentar elucidar o desaparecimento. “Eu ainda não desisti de localizar a Tânia, mas infelizmente não temos indícios nenhum de onde ela pode estar”, afirma.
Ainda segundo o delegado, não foram encontrados vestígios físicos que pudessem ajudar nas investigações, na Cachoeira Los Pagos, como objetos, peças de roupas ou pegadas. Todo o grupo, incluindo familiares de Tânia, foram ouvidos durante esse um ano de investigações.
Conforme explicado pelo delegado, uma das irmãs foi a única a relatar ter visto Tânia no alto da cachoeira. “A gente ouviu todo mundo do grupo, quem estava no pesqueiro, quem participou das buscas, pessoas da cidade que passaram por lá. A maioria das pessoas dizem que não viu ela lá, mas essa irmã disse que viu”, afirma.
Com base no depoimento dado por essa irmã, foram feitos 30 dias de buscas, por solo e com ajuda de helicópteros e drones, pela Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, PRF (Polícia Rodoviária Federal), e percorridos mais de 300 quilômetros.
Ainda segundo explicado pelo delegado, as outras testemunhas, que disseram não terem visto Tânia na cachoeira, explicaram que o grupo não se reuniu antes para a trilha, mas saíram divididos. “Eles não afirmam que não viram porque ela não estava lá, mas relatam que no momento em que chegaram foram descendo, cada um com seu grupo, porque estavam em quatro veículos, e não pararam para ver quem estava por lá”, afirma Magalhães.
Segundo ele, imagens de câmera de segurança da rodoviária de São Gabriel do Oeste foram recolhidas e mostram Tânia chegando no local. “Os vídeos não mostram ela saindo com o grupo, mas mostra ela na rodoviária e indo para onde está o grupo. No local [onde estavam os carros] não tinham câmeras que pudessem capturar ela entrando no carro”, afirma.
O delegado ainda explica que, no aspecto civil, é possível que em casos de desaparecimento de pessoas há muito tempo, e sem localização nem pistas, pode ser feito declaração de ausência ou morte presumida. “Se não encontrar a pessoa ou ela não aparecer, em relação aos bens, a família pode entrar com ação judicial e tem todo um processo para assinar a morte presumida e ter uma certidão de óbito, mas não é tão simples, e estamos com um ano só [do desaparecimento], o prazo é mais extenso”, detalha.
Por fim, o delegado explica que várias especulações já foram feitas, mas que a polícia investiga se Tânia pode ter desaparecido por vontade própria, se está no Estado ou fora dele – e até mesmo fora do país. Entretanto, apesar de haver a possibilidade das investigações virem para Campo Grande no setor da Polícia Civil de desaparecidos, as investigações ainda seguem e são conduzidas pela delegacia de São Gabriel do Oeste.
“Esse é um caso muito complexo, porque não há indícios de que ela esteja nem viva, nem morte. É diferente de uma investigação de homicídio, por exemplo, quando se tem um corpo ou chega no autor, ou até mesmo sem o corpo, porque nesse caso não encontramos vestígios dela nem na cachoeira nem fora”, finaliza o delegado.
Desaparecimento
Tânia desapareceu no dia 9 de janeiro de 2021, um domingo, enquanto supostamente fazia trilha com amigos e familiares. O Corpo de Bombeiros chegou a emitir uma nota após ficar 30 dias com militares na região, numa mega operação de buscas, que utilizou cães farejadores, helicópteros das Forças de Segurança, drones e revezamento de diversas equipes.
Fonte: Jornal Midiamax