Mais uma vez, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul despejou indígenas de área ocupada antes de a Justiça determinar a reintegração de posse. Na tarde desta sexta-feira (3), famílias que durante a madrugada invadiram a Fazenda Do Inho, em Rio Brilhante (a 161 km de Campo Grande), foram retiradas à força por policiais locais com apoio de equipes de Maracaju e Dourados.
Três indígenas foram presos e levados para a DP (Delegacia de Polícia). A organização Aty Guasu (Grande Assembleia do Povo Kaiowa e Guarani) informou que o cacique Adalto Barbosa, a professora Clara Barbosa e um jovem identificado como Lucas, de 18 anos, foram algemados e jogados no camburão da Polícia Militar.
O assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) Anderson Santos também confirmou as prisões. Ele se deslocou a Rio Brilhante e foi para a DP, para onde os indígenas foram levados: “Estão todos bem, sem problema algum, estive conversando com eles para orientá-los e verificar a situação em que se encontram. Agora vamos aguardar o procedimento para buscar a liberdade de todos”.
A reportagem apurou os indígenas foram presos em flagrante por esbulho possessório (invasão de propriedade particular), desobediência e resistência. Adalto e Clara são casados. Policiais que participaram do despejo relatam que os índios resistiram atirando flechas contra as viaturas.
Nesta sexta, Anderson havia alertado para o risco de outro confronto em caso de despejo sem ordem judicial. No final de junho do ano passado, o indígena Vitor Fernandes, 42, foi morto policiais do Batalhão de Choque da PM em Amambai. Os indígenas denunciaram despejo ilegal, mas a Secretaria de Segurança Pública alegou na época que o Choque foi ao local após denúncia de suposto roubo praticado pelos indígenas.
Mais cedo, o assessor de comunicação da Polícia Militar tinha informado que as equipes estavam no local apenas para evitar conflitos.
Esta é a segunda vez em um ano que os indígenas ocupam a Fazenda Do Inho e são despejados pela polícia. Em 27 de fevereiro do ano passado, o grupo foi retirado à força pelo Batalhão de Choque, mesmo sem ordem judicial. Na época, o Cimi denunciou que três indígenas ficaram feridos por balas de borracha.
A fazenda pertence aos herdeiros de Raul das Neves. O filho dele, Raul das Neves Junior, o Raulzinho, é presidente do Partido dos Trabalhadores em Rio Brilhante. A reportagem tentou falar com ele, mas o proprietário não se manifestou.
Raul das Neves Junior registrou boletim de ocorrência da Polícia Civil. Segundo ele, por volta de 3h, o funcionário que mora na fazenda entrou em contato informando que teve de sair correndo, porque a propriedade estava sendo invadida. Um botijão de gás teria sido roubado, segundo a ocorrência.
Raulzinho disse que não conseguiu acesso à fazenda, pois os indígenas trancaram o portão. Por isso, temia prejuízo com a safra, pois dos 360 hectares plantados com soja, apenas 40 hectares já foram colhidos.
Problema antigo
Os indígenas que entraram hoje na Fazenda Do Inho ocupam desde 2007 parte de uma propriedade vizinha, a Fazenda Santo Antonio. As famílias afirmam que as propriedades ocupam a área do território tradicional Laranjeira-Ñanderu, incluído em estudos de identificação e delimitação, que até agora não foram concluídos.
FONTE: CAMPO GRANDE NEWS