Segundo o levantamento, no assentamento Eldorado II, onde vivem 700 famílias, foram encontrados nas amostras de água três ingredientes ativos de agrotóxicos. Além de Mato Grosso do Sul, o estudo foi realizado em outras seis localidades do Cerrado brasileiro, onde foram achados ao menos um resíduo de agrotóxico.
Dossiê da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) revelou a contaminação por três tipos de agrotóxicos, sendo dois com grande potencial cancerígeno, águas de riachos e açudes utilizadas por um assentamento em Sidrolândia, na região central de Mato Grosso do Sul.
Segundo o dossiê, no assentamento Eldorado II, onde vivem 700 famílias, foram encontrados nas amostras de água três ingredientes ativos (IAs) de agrotóxicos: 2,4-D, atrazina e glifosato. No local, foram coletadas entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023, oito amostras, sendo cinco de rios, riachos e córregos e três de açudes e represas.
Os locais de coleta foram definidos de acordo com a importância para a comunidade, sendo priorizados pontos onde a água é utilizada para:
- irrigação de roças e quintais;
- na pesca;
- na dessedentação animal;
- nas brincadeiras e recreação da comunidade;
- no uso doméstico (lavagem de roupas e louças);
- na alimentação (beber ou cozinhar).
Os locais também estavam próximos a lavouras de grãos, que ocupam áreas no entorno e dentro do próprio assentamento. As amostras coletadas foram analisadas pelo Laboratório de Toxicologia do Cesteh/Ensp/Fiocruz, que apontou a contaminação pelos agroquímicos.
Dos três ingredientes ativos detectados, dois são apontados como cancerígenos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (Iarc/OMS), segundo o trabalho.
O 2,4-D foi declarado como possível carcinógeno humano, especialmente por sua relação com o surgimento de LNH, sarcoma (câncer nos ossos e nas partes moles), câncer de cólon (parte do aparelho digestivo) e leucemia.
O glifosato, por sua vez, recebeu essa classificação da Iarc, conforme o dossiê, devido às evidências de sua relação com o desenvolvimento de câncer de próstata e de linfoma não Hodgkin (LNH); bem como de LNH e leucemia.
Já a atrazina, de acordo o levantamento, foi banida da União Europeia em razão sua toxidade, relacionada principalmente à desregulação endócrina.
Além de Mato Grosso do Sul, o estudo foi realizado em outras seis localidades do Cerrado Brasileiro:
- Comunidade Barra da Lagoa, em Santa Filomena, Piauí;
- Acampamento Leonir Orback, em Santa Helena, Goiás;
- Comunidade Geraizeira, em Formosa do Rio Preto, Bahia
- Território Tradicional Serra do Centro, em Campos Lindos, Tocantins;
- Território Cocalinho, em Parnarama, Maranhão e
- Comunidade Cumbaru, em Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso.
Em todas as comunidades foi identificado ao menos um resíduo de agrotóxico.
A partir dos resultados do trabalho, as instituições que participaram da pesquisa apresentaram uma lista com 19 ações para conciliar a saúde das pessoas e a preservação do meio ambiente as necessidades da produção agrícola. A ideia é conscientizar produtores rurais e, principalmente, autoridades a rever a política de agrotóxicos no país.
Entre as medidas propostas estão: a construção de territórios livres de agrotóxico, a implantação de leis que exijam a redução gradativa das aplicações desses produtos nas lavouras, a proibição da pulverização aérea e banimento de agrotóxicos vetados em outros países.
G1 MS