Mortes entre 16 de dezembro de 2023 e 15 de janeiro de 2024 na BR-262 e na MS-040 ligaram o alerta sobre a segurança nas rodovias do estado.
As mortes de cinco pessoas ligadas a acidentes entre antas e veículos na BR-262 e MS-040, em trechos de Mato Grosso do Sul, levantaram alerta dos especialistas. Para as pesquisadoras da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), a recorrência dos registros não é novidade.
O levantamento do INCAB mostra que cinco mortes foram registradas entre os dias 16 de dezembro de 2023 e 15 de janeiro de 2024. Todas as mortes possuem uma ligação: foram em rodovias de Mato Grosso do Sul e são ligadas a acidentes envolvendo antas, maior mamífero terrestre da América do Sul.
“A colisão com antas em rodovias é uma problemática multifatorial. Primeiramente, o problema está diretamente relacionado com a segurança dos usuários dessas rodovias estaduais e federais. É um animal de grande porte, estamos falando entre 200 e 300kg, de forma que a colisão entre um veículo e uma anta é um grande acidente com consequências muito sérias”, explica a coordenadora da INCAB-IPÊ, Patrícia Medici.
“Temos também a questão das perdas econômicas – o veículo em uma colisão com anta fica bastante destruído. Por fim, há a perda direta de um animal tão importante – a anta está ameaçada de extinção e é responsável pela manutenção da biodiversidade, através da dispersão de sementes”.
A reportagem questionou a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), pasta do governo que administra a MS-040, sobre a situação na rodovia e ações para mitigar os danos. O órgão não retornou até a última atualização desta reportagem.
Já sobre a BR-262, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) foi questionado sobre as ações que realizam ao longo das rodovia. Leia trecho da nota abaixo:
“Entre estas ações, o DNIT realiza o monitoramento da presença de animais ao longo da área de influência do empreendimento e da incidência de animais atropelados nas estradas por meio da execução de programas ambientais específicos que são estabelecidos de acordo com Termo de Referência do órgão ambiental licenciador, os quais apontam diretrizes e critérios técnicos gerais a fim de subsidiar o processo de licenciamento ambiental”.
Fragilidade das rodovias
Ao longo de sete anos, o instituto levantou dados que mostram a fragilidade estrutural da BR-262 e MS-040. Nos cerca 8 mil quilômetros de rodovias do estado, 34 trechos foram monitorados correspondendo à aproximadamente 6.000 quilômetros de vias amostradas.
A análise dos dados coletados demonstrou que alguns trechos possuem maior concentração de eventos de colisões com antas. Esses trechos são chamados de hotspots.
A BR-267, BR-262 e MS-040 apresentaram maior número de antas atropeladas em relação às outras rodovias amostradas, compondo aproximadamente 80% de todos os registros. A BR-262, para especialistas, é chamada de “rodovia da morte”.
“As colisões veiculares em rodovias são uma das ameaças mais sérias à sobrevivência da anta brasileira – espécie listada como vulnerável à extinção na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. A anta apresenta um ciclo reprodutivo bastante lento e o impacto das ameaças pode levar a declínios populacionais ou até mesmo extinções locais”, comenta a pesquisadora.
Ações para mitigar mortes e acidentes
Para que a situação seja mitigada, o INCAB-IPÊ elenca algumas medidas:
- Passagens de fauna inferiores;
- Passagens de fauna superiores;
- Adaptações de drenagens fluvio-pluviais para a passagem de fauna;
- Cercamento ao longo de passagens inferiores e superiores;
- Sinalização, redutores físicos e eletrônicos de velocidade;
- Sistemas de detecção animal que são implementadas e podem reduzir substancialmente o atropelamento de animais.
Fonte: G1