Caso reforça a necessidade de buscar ajuda on-line, por telefone ou presencialmente em UBSs
A cena é desesperadora só de ouvir falar. Por volta das 14h30, o socorro é chamado por vizinhos depois de uma criança, de apenas 5 anos, abrir o portão de casa e sair aos prantos pedindo ajuda na rua. Ao procurar a mãe do menino, o cenário é ainda mais devastador. Dentro de casa não há mais salvamento para a mulher de 35 anos, que tirou a própria vida, na frente do filho.
Com balões de luvas improvisados pelo CBM (Corpo de Bombeiros Militar) em mãos, minutos depois o garotinho segue “perdido” entre adultos desconhecidos em frente de casa, na região sul de Campo Grande. Cercando o portão, vizinhos e militares compunham o cenário que o sociólogo Émile Durkheim define como “denúncia individual de uma crise coletiva”: um suicídio.
“Ela parecia feliz, ninguém pensava que ia chegar nisso”. “Sempre passava brincando aqui na frente”. Da boca dos vizinhos não sai a palavra “suicídio”, só as respirações mais profundas e comentários sobre como a mulher em nada parecia depressiva. Contrário a esses depoimentos, o relato de pessoas próximas é que a vítima enfrentava a doença há tempos.
Na rua calma, a movimentação começou com os vizinhos tentando encontrar alguém da família para retirar a criança da cena. Enquanto o menino chorava e pedia para entrar na casa, o jeito encontrado pelos bombeiros foi improvisar um brinquedo. Quando ele já estava longe dali, carros da perícia e da funerária não deixavam dúvidas sobre o desfeixo ruim.
Trabalhando com prevenção ao suicídio há mais de 20 anos, o capelão Edilson Reis apontou a ideia de Durkheim descrita acima como uma forma de entender o cenário visto no Jardim Itamaracá. “Eu posso interpretar essa crise coletiva como dor, sofrimento, abandono, desesperança e, principalmente, do estigma que as pessoas têm em relação à saúde mental. Todo suicídio é um tipo de comunicação”, diz.
Para ele, o quadro dessa mãe indica desesperança, solidão e abandono profundo. Além do histórico pessoal, o ambiente também deve ser entendido. “Esse ambiente envolve o apoio que ela tinha dentro de casa, suporte familiar, como era o serviço dela”.
Ligado a isso, o capelão explica que é necessário que a sociedade seja acolhedora e não isole os problemas. “Uma dor não compartilhada dói mais. É necessário incentivar, conscientizar que as pessoas com dor, sofrimento, sentimento de abandono e sem esperança procurem ajuda. Vá até uma UBS (Unidade Básica de Saúde), procure por médicos, psicólogos, enfermeiros, enfim, fale da sua dor, sua angústia, não sofra sozinho”.
De acordo com Reis, a pandemia retirou todo o sentido que havia sobre o que entendemos por sociedade. Distanciamento, isolamento, aumento do desemprego, perda de capacidade para adquirir itens básicos como de alimentação, tudo isso se une ao cenário do que o capelão chama de “quadro de profunda desesperança”.
“Há uma desesperança profunda por não saber o que virá do futuro, ninguém consegue dizer mais nada sobre isso”, completa.
Procure ajuda – Em Campo Grande, o GAV (Grupo de Apoio à Vida) oferece serviço gratuito de apoio emocional pelos números (67) 3383-4212, 99973-8682 e 99266-6560. Todos os números não registram ou identificam as chamadas, funcionando entre 7h e 23h, incluindo sábados, domingos e feriados.
Outra opção de ajuda é o CVV (Centro de Valorização da Vida) através do número 188 ou pelo site www.cvv.org.br. Na página online também é possível abrir um chat online e enviar e-mail.
Presencialmente, a população também pode ir até uma UBS e solicitar encaminhamento a um CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial).
Fonte: Jornal a semana