A partir de comparação com todo o Brasil, a macrorregião de saúde de Corumbá, que envolve também Ladário e gera repercussão na Bolívia, é apontada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como de nível extremamente alto para contágio pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
A análise consta no boletim mais recente do InfoGripe, desta penúltima semana de abril. As constatações foram feitas após análise da semana epidemiológica 15, período de 10 a 16 de abril.
A SRAG pode se manifestar em diferentes tipos, como influenza A, influenza B, Covid-19 e Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Os relatórios analisados pela Fiocruz ainda ressaltaram o cenário da doença em crianças, grupo que recebe particular atenção da entidade.
No País, há 30 macrorregiões de saúde, e no boletim divulgado neste fim de abril há 21 unidades em nível epidêmico, seis em nível alto, dois em nível muito alto e apenas a regional de Corumbá com nível extremamente alto.
Enquanto esses dados colocam a macrorregião de saúde de Corumbá no mais alto grau de contágio, o cenário é muito diferente no resto de Mato Grosso do Sul, como em Campo Grande. Na Capital e no resto do Estado foi apontada situação de preocupação, mesmo na análise que é feita para o longo prazo (seis semanas).
Há oito capitais com tendência de crescimento nesse período mais estendido de tempo: Belém (PA), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Macapá (AP), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC).
Com relação aos estados com tendência para mais registros de SRAG com a chegada do inverno, estão na lista: Acre (AC), Amapá (AP), Mato Grosso (MT), Pará (PA), Piauí (PI), Paraná (PR), Roraima (RR), Rio Grande do Sul (RS), Alagoas (AL) e Paraíba (PB).
Em termos do diagnóstico feito pela Fiocruz, Mato Grosso do Sul como um todo apresenta estabilidade. Enquanto isso, Campo Grande está com probabilidade de queda, na porcentagem de 75%, de acordo com o relatório InfoGripe.
A incidência está abaixo dos 10 casos por 100 mil habitantes para a Capital. No caso da macrorregião de Corumbá, como comparação, a incidência é com casos estimados na faixa de 20 por 100 mil habitantes.
O aumento de casos é uma realidade que foi identificada desde fevereiro, com a volta das aulas presenciais, e atingiu quase todo o Brasil.
Depois de um pico de incidência, em termos nacionais, a doença caminha para uma redução. Quadro que também destoa da identificação feita sobre a macrorregião de saúde de Corumbá.
O coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, apontou que, entre adultos, a SRAG vem reduzindo sua incidência. Ele também ressaltou que, atualmente, não é o vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, que mais está afetando a população.
“Os novos dados laboratoriais apontam predomínio de casos associados ao VSR, sendo 66,4% entre os positivos nas últimas quatro semanas na faixa etária de 0 a 4 anos e 23% na faixa de 5 a 11 anos. Com relação ao rinovírus, o predomínio de casos foi de 36%, e de Sars-CoV-2 foi de 28%. No agregado nacional, verifica-se cenário de estabilização em todas as faixas etárias da população adulta”, sinalizou Gomes.
VSR
O Vírus Sincicial Respiratório, ou VSR, prolifera-se em ambientes pouco ventilados, além de ter alto poder de contágio. Esse tipo de vírus é identificado como um dos principais agentes de infecção aguda nas vias respiratórias e pode afetar brônquios e pulmões.
Essa doença é causadora de pneumonia, especialmente em bebês prematuros, conforme autoridades de saúde. Apesar desse quadro, pesquisadores da área médica identificaram que a grande maioria das crianças até os três anos entra em contato com esse vírus, mas não manifesta forma grave da doença.
A grande maioria das infecções causadas por VSR ocorre no fim do outono, em geral entre os meses de maio e setembro. As mucosas da boca, do nariz ou dos olhos são as principais formas de o vírus penetrar no organismo, com capacidade de permanecer por semanas.
O contágio ocorre enquanto a infecção está ocorrendo, por tosse, espirro e fala, além de toque em objetos que foram manuseados por quem está doente, condição semelhante ao que acontece com o Sars-CoV-2, da Covid-19.
Esse monitoramento da Fiocruz ocorre com análise de informações lançadas pelas autoridades de saúde estaduais e das macrorregiões do País no sistema Sivep-gripe.
O objetivo do levantamento é orientar os governos estaduais e municipais para atuarem antecipadamente na preparação de leitos para receber pacientes, campanhas de orientação, planejamento de unidades de saúde para manter maior efetivo de médicos e equipes para atendimento em quadros mais graves.
“Os dados aqui apresentados devem ser utilizados em combinação com demais indicadores relevantes, como a taxa de ocupação de leitos das respectivas regionais de saúde, por exemplo”, explicou o boletim.
A auxiliar de cozinha Regina Xavier, 29 anos, vive no Bairro Cristo Redentor, em Corumbá, e está há quase um mês com o filho de seis anos doente, apresentando quadro gripal.
Ela levou a criança para atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade e vem medicando-a com antitérmico, mas sem o uso de outro tipo de medicação, após avaliação médica.
O menino chegou a perder 4 kg nesse período, porém começou a apresentar um quadro de melhora desde sexta-feira.
“A gente fica preocupada, precisei sair do trabalho mais cedo para cuidar dele e também venho almoçar em casa para tentar fazer ele comer mais, porque ele fica resistente para comer. Estamos monitorando”, explicou.
A reportagem do Correio do Estado tentou contato, por telefone, com o secretário municipal de Saúde de Corumbá e presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde do Estado (Cosems/MS), Rogério Leite, para identificar como os dados desse relatório devem ser utilizados para o planejamento do atendimento à população, porém não foi possível estabelecer contato.
Fonte: Correio do Estado