O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) se reuniram nesta segunda (23) pela primeira vez com a coordenação geral da pré-campanha para discutir o papel que cada partido da coligação terá, a conjuntura atual e os próximos passos.
O encontro contou com a presença dos presidentes dos sete partidos (PT, PSB, Solidariedade, PSOL, PC do B, PV e Rede), além de representantes das siglas, como os ex-governadores Márcio França (PSB) e Wellington Dias (PT), o ex-ministro Luiz Dulci e Guilherme Boulos (PSOL).
Participaram também os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Paulo Rocha (PT), os prefeitos João Campos (PSB-PE) e Edinho Silva (PT-SP), os deputados federais Rui Falcão (PT-SP), Ivan Valente (PSOL-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Reginaldo Leite (PT-MG).
A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, esposa do petista, também participou. A reunião ocorreu em um hotel em São Paulo.
No começo do encontro, Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populi, fez uma apresentação sobre o cenário político.
Coimbra levantou três elementos em sua fala sobre pesquisas: uma “estabilidade inédita” dos índices de intenção de voto nas pesquisas, com favoritismo de Lula; consolidação de votos em torno do petista e do presidente Jair Bolsonaro (PL); e uma tendência de antecipação para liquidar a fatura no primeiro turno.
Na reunião, ao descrever Alckmin como um “vice dos sonhos”, Lula afirmou que não achava que encontraria um vice tão qualificado quanto José Alencar. Mas que, agora, teria mudado de opinião e que não teria vice melhor que o ex-tucano.
Segundo o deputado federal Ivan Valente (PSOL), que participou do encontro, Lula lembrou que tem sido cobrado a apresentar novidades em seus discursos, em vez de falar de sua gestão passada.
O ex-presidente disse, no entanto, que o novo hoje é a volta da valorização do salário mínimo e da retomada do papel do estado como indutor do crescimento social e econômico. Lula voltou a se manifestar contra a privatização de Eletrobras e Petrobras.
O ex-presidente falou que foi cobrado a se manifestar sobre o caso de Daniel Silveira, mas não se deixaria pautar pelo discurso de Bolsonaro. Ele admitiu ser necessário melhorar a atuação da campanha nas redes, mas é a política que vai definir a eleição.
À imprensa a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou Bolsonaro e afirmou que a campanha deste ano será “muito judicializada por conta das barbaridades que eles fazem”.
“Espero que as instituições, principalmente o TSE [Tribunal Superior Eleitoral], tomem medidas firmes em relação a fake news e a propagação de fake news”, disse.
Ela afirmou ainda que espera ter uma conversa com o TSE sobre o aplicativo de mensagens Telegram.
“Vai ter um escritório aqui? Tem algum representante? Vai ter regras sobre isso? Ou vai ser terra de ninguém, vai poder falar o que quiser, do jeito que quiser e todo mundo vira vítima?”
“Porque tem um momento em que nós somos as vítimas, mas depois as vítimas também passam a ser as instituições como está sendo o TSE e o Supremo Tribunal Federal. Eles têm responsabilidade em relação a isso para fazer com que esse processo eleitoral seja o mais limpo possível.”
Gleisi disse ainda que a coordenação da pré-campanha ainda não discutiu uma eventual aproximação com o ex-governador João Doria, que anunciou nesta segunda que não irá mais concorrer à Presidência.
“Não somos contra conversar com ninguém que se coloca nesse campo democrático, mas isso ainda não foi discutido”, disse.
A deputada seguiu dizendo que a coligação trabalha para ampliar alianças com figuras políticas e demais partidos, entre eles PSD, MDB, Avante e Pros. E disse que será uma eleição “disputada e dura”.
“Sabemos como eles jogam com as fake news, violência, tentativa de mudar de foco aquilo que é essencial, que é a vida do povo () é a democracia contra o autoritarismo.”
Antes do encontro começar, aliados de Lula afirmaram que era possível antecipar o resultado das eleições para o primeiro turno e disseram que era preciso ampliar as alianças -para além do campo da esquerda.
Presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulinho da Força afirmou que é possível atrair partidos da chamada terceira via. “Como a terceira via vem definhando a cada dia que passa, acho que é possível ampliar as alianças nesses partidos que os candidatos não pegaram no tranco e nem vão pegar” disse. Para ele, Alckmin poderá atuar na ampliação das alianças.
“Ele tem espaço hoje no Brasil inteiro e pode trabalhar para fazer isso e além da esquerda, ir além do centro. A eleição vai se estreitar cada dia mais, eu não acredito em segundo turno. Por isso precisamos fazer que a candidatura do Lula seja a de quem quer tirar o Bolsonaro e reconstruir o Brasil”, disse.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que mantém diálogo com candidaturas de nomes como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) e que é preciso “sentar à mesa com todos os partidos em defesa da democracia”.
“O resultado dessas eleições não será aceito por Jair Bolsonaro. Derrotá-lo no primeiro turno é uma necessidade para a democracia brasileira, é civilizatória. Não sei se conseguiremos, não quero subestimar”, disse o parlamentar.
Guilherme Boulos, que presidirá a federação PSOL-Rede, disse que é preciso discutir estratégias de mobilização da pré-campanha.
“Essa vai ser uma campanha de mobilização pelo nível de polarização, pela forma odiosa como Bolsonaro tenta trazer o debate. Vamos precisar de mobilização da sociedade para que o Lula consiga uma vitória forte, expressiva e que também não dê margem nem brecha para qualquer alucinação golpista”, afirmou.
O prefeito de Recife, João Campos (PSB), afirmou ainda que as eleições irão exigir “desprendimento de todos nós” e que Alckmin trará “legitimidade”.
“A própria figura dele fala por si. Ele tem um perfil muito conciliador, é uma pessoa que consegue ter legitimidade e ser muito respeitada em segmentos importantes da sociedade. A máxima de uma eleição é a capacidade de juntar. Vence quem junta, quem agrega, inclusive, os diferentes.
Ainda hoje, será realizada reunião de trabalho com representantes dos partidos sobre áreas temáticas da pré-campanha, como agenda, finanças, comunicação, mobilização e programa de governo.
Cada um desses temas será discutido em pequenos grupos. A ideia é que eles dialogem com a coordenação da pré-campanha ao longo deste ano.
Na próxima semana, Lula e Alckmin deverão seguir para agendas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina -será a primeira viagem da dupla.
Fonte: Correio do Estado