Indígenas querem destituir cacique após confronto com morte em Amambai: ‘não aceitamos traidor’

Foto: Indígenas querem responsabilizar cacique por morte na aldeia (Fotos: Marcos Morandi)

Durante o sepultamento do indígena Vitor Fernandes, 42 anos — morto durante confronto com a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e que reuniu mais de 300 pessoas — além de críticas às operações desencadeadas na última sexta-feira (24), as lideranças também não pouparam o cacique da Aldeia Amambai, João Gauto. A reportagem apurou que Gauto já trabalhou para o proprietário da Fazenda Bordas da Mata.

Em conversa com lideranças que moram na Aldeia Amambai, a reportagem apurou que descontentamento contra o cacique é geral. Segundo eles, sua permanência no cargo é considerada ilegítima.

“Sabemos que ele deu todas as informações para os policiais e também para os seguranças privados que estavam na fazenda”, disse uma das fontes.

Ainda de acordo com essas mesmas lideranças, passada a comoção do sepultamento de Vitor, serão tomadas as providências necessárias para que ele deixe o comando da aldeia. “Diante de tudo que aconteceu, se ele não renunciar, nós [tomaremos] as providências que forem necessárias para que ele seja afastado”, disse uma professora que trabalha na aldeia.

Foto: Marcos Morandi, Midiamax

Durante o velório, os indígenas empunhavam cartazes pedindo a prisão do cacique. “Ele tem que ser indiciado por crime de responsabilidade, uma vez que ele foi o pivô de todo esse conflito”, cobrou Avá Apyká Rendy, durante o velório.

“Não acoitamos traição”

O cacique é apontado pelos moradores da aldeia como traidor e também como uma pessoa rancorosa, que persegue quem contraria o seu jeito de pensar e também a suas ações. “Há algum tempo temos percebido que ele não se comporta mais como um dos nossos. Aqui na nossa comunidade nós não acoitamos nenhum tipo de traição”, diz um ancião da aldeia ouvido pela reportagem.

Cartas enviadas pelo cacique

Antes do confronto que resultou na morte de Vitor e também no ferimento de outros envolvidos, o cacique teria enviado duas cartas às autoridades. A primeira delas é datada de 19 de junho, onde ele solicita apoio e diz que a retomada Guapo’y Mirim Tujury, “está tendo brigas entre os próprios indígenas”.

Na outra, já datada de 23 de junho, um dia antes do confronto, ele fez uma nova carta direcionada à Funai, MPF e Secretaria de Segurança Pública, onde reitera as denúncias contra os indígenas da sua própria aldeia. “Informamos ainda que no local da retomada há muitos menores de idade correndo risco de vida, bêbados, e muitos aproveitam o conflito e andam com armas brancas, como facão […]”, relata o cacique.

Essas duas cartas deixaram a comunidade revoltada e a partir daí sua autoridade foi colocada em cheque. “Tudo isso é uma inverdade. Em nenhum momento nós fizemos qualquer intimidação ou ataque à sede da fazenda. Nós sempre agimos de forma pacífica. Quem inventou essa guerra foi nosso próprio cacique”, explica outra anciã da comunidade.

A reportagem procurou o cacique para falar a respeito das denúncias feitas por moradores e lideranças da Aldeia Amambai, mas ele não foi encontrado. Desde a última sexta-feira, após o confronto, ele não foi mais visto. Em nenhum momento ele esteve no local do velório.

Uma das cartas assinada por cacique (Foto: Reprodução)

 

Fonte: Jornal Midiamax

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