Adolescentes de MS querem diálogo, apoio emocional e mais protagonismo na escola, aponta MEC

Embora reconheçam a importância da escola, adolescentes sul-mato-grossenses desejam um ambiente diferente — com mais diálogo, participação nas decisões e apoio emocional. É o que revela a pesquisa “Semana da Escuta das Adolescências”, que ouviu cerca de 44 mil estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental das redes municipal e estadual de Mato Grosso do Sul.

O tema ganhou ainda mais relevância no Estado após o IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) publicar, no início de novembro, um novo protocolo de acolhimento psicológico, elaborado após a morte de dois estudantes de Campo Grande em um intervalo de dois meses. Em outubro deste ano, um mês após o suicídio de um menino de 15 anos, ex-aluno do IFMS, colegas realizaram um protesto no pátio em busca de mais apoio e estrutura, especialmente na questão do acompanhamento psicológico.

A pesquisa, realizada pelo MEC (Ministério da Educação) entre 13 e 31 de maio de 2024, buscou identificar as necessidades e expectativas dos adolescentes e orientar políticas para os anos finais do ensino fundamental. No total, a escuta envolveu mais de 2,2 milhões de estudantes em todo o país.

Estudantes querem ser ouvidos

Protesto IFMS
Protesto IFMS (Divulgação, redes sociais)

Em MS, a principal reivindicação é por ambientes mais seguros e acolhedores. Cerca de 30% dos adolescentes pedem melhorias na infraestrutura e segurança no entorno da escola. Entre 27% e 30% defendem ações de diálogo e apoio à saúde emocional, incluindo combate ao bullying e ao racismo.

A participação estudantil é outro ponto sensível, embora haja interesse por grêmios, coletivos e projetos comunitários, uma parcela pequena sente que suas opiniões impactam decisões institucionais.

  • Grupos e coletivos estudantis (31% nos 8º/9º e 33% nos 6º/7º);
  • Campeonatos e atividades abertas à comunidade (até 53% entre os mais velhos).

Os dados mostram que a escola é vista majoritariamente como espaço de aprendizado e convivência, especialmente para os mais novos. Entre estudantes do 6º e 7º anos, 65% afirmam que a escola representa aprendizado e 63% citam acolhimento e socialização.

Já entre os alunos do 8º e 9º anos, esses índices caem para 58% e 52%, respectivamente. A sensação de participação nas decisões da escola também diminui com a idade, apenas 40% dos alunos mais velhos se sentem ouvidos.

O que os estudantes querem aprender?

Escola Reme'(Divulgação/ Semed)

Mas afinal, o que querem os estudantes? O levantamento mostra que os interesses mudam conforme a progressão escolar. Entre os estudantes do 6º e 7º anos há uma maior valorização das disciplinas tradicionais (48%) e de conteúdos ligados ao bem-estar e artes.

Em contrapartida, entre 8º e 9º anos cresce o interesse por educação emocional, autoconhecimento e cidadania (40%), além de temas práticos para o futuro, como educação financeira (30%) e tecnologia (26%).

  • 6º/7º anos: 42% esportes e bem-estar; 29% artes e cultura; 19% autoconhecimento
  • e saúde mental.
  • 8º/9º anos: 40% esportes e bem-estar; 25% saúde mental; 23% artes e cultura.

Esportes e bem-estar aparecem como prioridade para ambos os grupos, assim como o desejo por atividades dinâmicas, que envolvam prática, projetos, debates e experiências fora da sala de aula. O modelo tradicional de aula expositiva é o menos valorizado (16%).

  • 6º/7º anos: Trocas e debates 28%; projetos e resolução de problemas 18%; interação além da escola, como visitas e feiras 26%.
  • 8º/9º anos: Trocas e debates 26%; projetos e resolução de problemas 29%; interação além da escola, como visitas e feiras 29%.

Escola e futuro

Alunos da Reme (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

De olho no futuro, as habilidades voltadas a vida adulta e prática aparecem como as mais valorizadas pelos adolescentes, com destaque para educação financeira e tecnologia, especialmente entre os mais velhos.

  • 6º/7º anos: 26% tecnologia e mídias digitais; 23% educação financeira; 15% ações comunitárias.
  • 8º/9º anos: 30% educação financeira; 26% tecnologia; 16% ações comunitárias.

Quando o tema aborda direitos e sustentabilidade, há consciência social crescente, com foco em direitos humanos e combate à discriminação, embora os índices sejam mais baixos que em outras áreas.

  • 6º/7º anos: 17% direitos e combate a preconceitos; 13% sustentabilidade; 7% cidadania e política.
  • 8º/9º anos: 17% direitos e combate a preconceitos; 10% sustentabilidade; 8% cidadania e política.

Questionados sobre o modelo de escola ideal, as atividades práticas e ‘mão na massa’ são as mais citadas: 36% (6º/7º) e 34% (8º/9º). Em seguida vêm ciência e tecnologias, com destaque para o uso de mídias digitais (38% e 33%, respectivamente). Conversas sobre sentimentos e objetivos de vida também aparecem entre 21% e 24% das respostas.

Perfil dos estudantes

Alunos da Rede Estadual (Arquivo, SED)

Para o MEC, essa escuta abre caminho para redes de ensino ajustarem currículos, espaços e relações, em um momento em que o bem-estar estudantil surge como pauta urgente. Para entender essas especificidades a pesquisa também relevou o perfil dos estudantes.

Aqui, a maioria dos adolescentes se declara parda (48% a 50%). Estudantes brancos representam de 26% a 31%, enquanto pretos somam até 9%. Alunos indígenas e com deficiência aparecem em cerca de 5% a 6% do total de respondentes.

Fora do ambiente escolar, as atividades mais citadas são esportes e lazer (49% a 59%) e atividades religiosas (26% a 29%). Práticas culturais aparecem em torno de 26% a 29%, e ações de cidadania e voluntariado, com menor presença (13% a 19%). Além disso, mais da metade dos alunos diz jogar online e participar de esportes coletivos.

 

Fonte: Jornal Midiamax

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