Áreas alagadas no Pantanal diminuíram 75% em 40 anos; 2024 foi o mais seco da história

“O guardador de águas”, como já dizia Manoel de Barros, perde um pouquinho do apelido a cada dia. Na data em que o Dia do Pantanal é celebrado, o dado é alarmante: áreas alagadas do bioma diminuíram 75% em 40 anos, sendo 2024 o período mais seco da história.

Levantamento do MapBiomas, divulgado hoje (12), revela que a área anual que permanece alagada no bioma diminuiu 75% entre a primeira e a última década do período analisado (1985-2024), com o ano de 2024 sendo o mais seco de toda a série histórica.

O período mais seco das últimas quatro décadas e as mudanças na Planície Pantaneira se correlacionam às transformações ocorridas no Planalto da BAP (Bacia do Alto Paraguai), onde nascem os rios que abastecem o bioma.

Nesta análise, que inclui mapas, gráficos e dados, houve a revelação de que a área anual que permanece alagada no bioma diminuiu 75%, passando de 1,6 milhão de hectares na primeira década (1985-1994) para 460 mil hectares na última (2014-2024).

Cheia do Pantanal em 2018 foi 22% menor que a grande cheia de 1988

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Barco em Corumbá. (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

No caso de 2024, a área alagada ficou 73% abaixo da média. A última grande cheia, registrada em 2018, foi 22% mais seca do que a primeira grande cheia da série, em 1988. O contexto reforça que o Pantanal tem enfrentado períodos de cheias menores e secas mais severas a cada década.

Vale lembrar que o Planalto da BAP (Bacia do Alto Paraguai), onde nascem os rios que abastecem o Pantanal, abrange áreas de Mato Grosso (48% da bacia, 17,4 milhões de hectares, representando 19% do estado) e Mato Grosso do Sul (52% da bacia, 18,6 milhões de hectares, representando 53% deste território). O bioma Pantanal corresponde à Planície, enquanto o Planalto divide-se entre o Cerrado (83%) e a Amazônia (17%).

Assim, os dados revelam que as alterações da cobertura vegetal foram mais intensas no Planalto, impactando diretamente no fluxo hídrico entre Planalto e Planície. A área natural do Planalto caiu de 72% para 46% em Mato Grosso e de 59% para 36% em Mato Grosso do Sul — uma perda total de 5,2 milhões de hectares (37%) de vegetação nativa entre 1985 e 2024.

No mesmo período e no Planalto, a agricultura aumentou 3,8 vezes (1,4 milhão de hectares), com a soja representando 80% das áreas agrícolas. A pastagem aumentou 4,4 milhões de hectares sobre a vegetação nativa, intensificando as áreas antrópicas no Planalto.

“As variações climáticas e precipitação na BAP determinam o pulso anual de cheias no Pantanal. A perda de Florestas e Savanas fragiliza a proteção dos solos nas cabeceiras do bioma, o que interfere no fluxo de água que chega à Planície. Em 1985, 33% do Planalto, ou sete milhões de hectares, já era de uso antrópico. Em 2024, praticamente 60% do Planalto é antropizado”, explica Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas.

Nesse contexto, a condição das pastagens no Planalto também é um fator agravante que chama atenção. Em 2024, 63% das pastagens apresentavam baixo ou médio vigor vegetativo. Do total de 8,6 milhões de hectares de pastagem no Planalto, a porção na Amazônia (2.068.850 hectares) apresenta 52% de baixo vigor e 40% de médio vigor, enquanto a porção no Cerrado (6.620.165 hectares) tem 14% de baixo vigor e 41% de médio vigor.

Na Planície Pantaneira, as mudanças também foram significativas. A área natural caiu de 96% para 84% entre 1985 e 2024, com uma perda total de 1,7 milhão de hectares de vegetação nativa, sendo 0,7 milhão de hectares na porção em Mato Grosso (onde a área natural caiu de 96% para 84%) e 1,1 milhão de hectares na porção em Mato Grosso do Sul (onde a área natural caiu de 96% para 85%).

Conversão de vegetação nativa para pastagem

A conversão de vegetação nativa para pastagem foi de 1,7 milhão de hectares em 40 anos no Pantanal, passando de 563 mil hectares em 1985 para 2,2 milhões de hectares em 2024. O dado de condição de vigor das pastagens mostra que, em 2024, 85% das pastagens da Planície tinham baixo ou médio vigor vegetativo. A mineração foi a atividade antrópica que mais cresceu proporcionalmente na última década no Pantanal, com um aumento de 60%.

No conjunto da Bacia do Alto Paraguai, as áreas agropecuárias aumentaram de 21%, em 1985, para 40%, em 2024, somando 7,5 milhões de hectares convertidos de vegetação nativa, em quatro décadas. Desse total, 84% (12 milhões de hectares) da agropecuária está no Planalto e 16% (2,3 milhões de hectares) na Planície.

A análise por décadas detalha a dinâmica na Planície e no Planalto:

•1985–1994: a maior conversão de formação savânica para pastagem ocorreu nesta década. A pastagem dobrou a área existente (592 mil hectares). Conversão de 341 mil hectares de formação savânica, 166 mil hectares de formação florestal, 57 mil hectares de vegetação campestre e 28 mil hectares de campo alagado. O Planalto perdeu 12% de sua vegetação nativa (2,6 milhões de hectares).

•1995–2004: o desmatamento avançou para o interior do bioma Pantanal, com perda de 527 mil hectares de vegetação nativa, o que representa perda de 3% da vegetação nativa no bioma. No Planalto, a perda de vegetação nativa foi de 9%.

•2005–2014: observou-se, pela primeira vez, a redução da frequência de alagamentos e o adensamento lenhoso, com 350 mil hectares de formações savânicas se expandindo sobre campos e pastagens. As perdas de vegetação nativa proporcional, na Planície e no Planalto, foram de 1,5% em cada região.

•2015–2024: a década mais seca, com a redução de 1,2 milhão de hectares (em relação à primeira década) na área anual que permanece alagada na Planície. Nesta última década, a Planície Pantaneira perdeu mais vegetação nativa (450 mil hectares) do que o Planalto, que mantém, em 2024, 42% de áreas naturais, enquanto o Pantanal tem 84% do bioma com áreas naturais.

 

Fonte: Jornal Midiamax

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