O Rio Paraguai, em Ladário, subiu 74 centímetros nos últimos 34 dias, saindo do patamar negativo e chegando a média histórica de dezembro. A melhora considerável acontece após o Pantanal enfrentar uma seca histórica, mas não é indicativo de normalidade em 2025. Para pesquisadores, os efeitos da estiagem severa vão continuar sendo sentidos.
A pesquisadora Liana Anderson do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), comentou sobre a seca severa enfrentada em 2024 e seus impactos para o Meio Ambiente, principalmente o Pantanal, nos próximos anos.
“A gente vem de um processo de seca muito longa e severa, então eu imagino que para começar a normalizar não ocorra ma situação tão rápida, né? Se a gente for comparar com as secas anteriores, esse último efeito El Niño é o que imprimiu uma marca de secas mais fortes, não só pela intensidade, mas também pela duração”, explica a pesquisadora.
Ela corrobora outros pesquisadores e fala em eventos climáticos mais intensos e duradouros, e uma a tendência de diminuição do volume hídrico do Brasil.
“Eu não sei até que ponto a gente consegue reverter um pouco esse cenário de decréscimo das inundações, das cheias que vêm ocorrendo. Então eu não sei se esse é um processo reversível nesse momento”, destaca.
Queimadas desequilibram redução de carbono
Enquanto o mundo se compromete com a redução da emissão de carbono na atmosfera, os incêndios florestais que este ano tiveram grande impacto no Pantanal, geram desequilíbrio e contribuem para o aquecimento global.
A pesquisadora Liana Anderson explica que as árvores são grandes aliadas na neutralização de carbono, mas quando árvores queimam e morrem, há um desequilíbrio na atmosfera. “Você vai ter maior contribuição de gás de efeito estufa para a atmosfera, que vai contribuir com secas mais severas, com eventos severos. É um efeito em cadeia”.
O fogo gera perda da floresta primária e mesmo uma reposição não tem a mesma contribuição que a floresta primária dava, então a gente continua sofrendo perda, explica a pesquisadora. Ela ainda cita sobre o impacto que a morte de animais queimados tem para a recuperação do bioma diante o fogo.
“A princípio a gente pensa assim, isso pode não nos tocar diretamente, é só uma perda, mas, no fundo, isso está associado com a própria recuperação desses sistemas. Além disso, os animais silvestres são vetores de muitos vírus de doenças. A partir do momento que o hospedeiro não está mais presente, a chance desses vetores encontrarem o ser humano como um novo vetor de doenças é muito grande. É todo um efeito de desequilíbrio”, reflete Liana.
Ano icônico para as mudanças climáticas
O ano ainda não acabou, mas 2024 ficará marcado na história como o primeiro ano em que as mudanças climáticas se fizeram mais evidentes. Do alagamento do Rio Grande do Sul à seca extrema do Pantanal, nunca foi tão nítido ver que o clima está mudando.
“São esses extremos, é uma bomba climática e para mim o mais intrigante, o maior desafio que a gente tem é como a gente vai conseguir conciliar o entendimento do que aconteceu com o que precisamos fazer. Eu acho que a gente está muito atrás e não está se preparando da maneira correta para assumir isso que vai acontecer”, diz Liana sobre as mudanças climáticas.
Fonte: Jornal Midiamax