O desastre climático registrado no Paraná na última sexta-feira (7) expôs a fragilidade do país em prever fenômenos extremos de curto prazo e acendeu um alerta sobre o risco vivido por áreas vulneráveis. Em Mato Grosso do Sul, embora não haja previsão de tornados, 29 municípios estão em áreas classificadas como suscetíveis a enxurradas, inundações e deslizamentos, cenário que tem se agravado nos últimos anos devido às mudanças climáticas.
Um levantamento realizado em 2024 pelo Governo Federal aponta que 1.942 municípios brasileiros estão suscetíveis a desastres naturais — quase 35% do país. Diversas cidades de MS constam no mapeamento por risco geo-hidrológico, com 25.092 pessoas vivendo em áreas sujeitas a enxurradas, alagamentos e deslizamentos de encostas.
Dentre os municípios com maior número de moradores em áreas de risco, destaca-se Batayporã. A cidade, que abriga 10.712 habitantes, tem cerca de 10 mil pessoas em regiões mapeadas como vulneráveis a enxurradas e inundações; ou seja, praticamente toda a cidade.

Outros municípios também apresentam populações expressivas em áreas de risco: Aquidauana (2.650 pessoas), Coxim (1.740), Ponta Porã (1.710), Miranda (1.606), Corumbá (1.429) e Três Lagoas (1.478). Em Campo Grande, o levantamento aponta que 1.232 moradores vivem em locais suscetíveis a deslizamentos, enxurradas e alagamentos.
Brasil não possui tecnologia capaz de detectar tornados, segundo Cemaden
Os dados ganham ainda mais relevância diante do recente tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, deixando seis mortos e centenas de feridos. Conforme o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o Brasil não possui tecnologia capaz de detectar tornados com antecedência suficiente para alertar a população.
Além disso, há uma faixa do país com maior propensão à formação de tornados, que inclui o sul de Mato Grosso do Sul, parte de São Paulo, o centro-oeste do Paraná e o oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul — região que ficou devastada pelas enchentes em 2024.
Consequência das mudanças climáticas

Para o ambientalista Alcides Faria, diretor da ONG Ecoa, os efeitos das mudanças climáticas já são evidentes em Mato Grosso do Sul. Ele afirma que praticamente todo o território do Estado está vulnerável. Isso porque houve uma redução da vegetação nativa do Cerrado e do Pantanal ao longo das últimas décadas. Com isso, desastres climáticos tendem a ser cada vez comuns em MS.
“Retirada a vegetação, as águas escoam mais rapidamente durante as chuvas, sem infiltrar no solo. Isso arrasta sedimentos e pode causar cheias repentinas. O Estado já vive eventos extremos com mais frequência, como as secas severas no Pantanal em 2020 e 2024”, destacou.
A variação climática global também altera a intensidade de fenômenos como El Niño e La Niña, tornando as chuvas mais irregulares. Conforme Alcides, pesquisas indicam que períodos de transição entre esses dois fenômenos podem reduzir drasticamente as chuvas na bacia do Rio Paraguai e afetar diretamente o Pantanal.
MS vivenciou tornado 1989

Em 1989, um tornado semelhante ao que atingiu o estado do Paraná afetou a cidade de Ivinhema, distante 292 km de Campo Grande. Na época, o município foi atingido por um tornado da categoria F3, com ventos de mais de 250 km/h, que destruíram casas e estabelecimentos e deixaram 17 mortos.
Cerca de 80 casas, uma escola e três fábricas sofreram danos, além das diversas árvores que foram arrancadas durante a tempestade. A principal tragédia, no entanto, ocorreu no Clube da Acri, onde iria ocorrer o Desfile da Primavera. Cerca de 450 pessoas, a maioria jovens, estavam presentes.
O local ficou completamente destruído pelos ventos fortes, que derrubaram duas paredes, vigas de concreto, telhas e a cobertura, deixando 160 feridos e 17 mortos. A cidade de Ivinhema, a qual tinha pouca estrutura, conseguiu prestar socorro aos feridos devido à mobilização da população local, que, unida, conseguiu diminuir o impacto da tragédia.
Ainda temos tempo?
Para reduzir os impactos, Alcide defende ações estruturadas, com fortalecimento das Defesas Civis municipais e planejamento urbano adaptado.
“Eu começaria pelas cidades. Arborização, drenagem adequada, cuidado com áreas de encosta e fundos de vale. No último temporal em Campo Grande, mais de 80 árvores caíram”, comentou.
Além disso, diante desse cenário, especialistas apontam que eventos climáticos extremos tendem a se tornar mais frequentes e intensos no Estado. Por isso, Alcides reforça que o desafio para Mato Grosso do Sul é avançar na prevenção, adaptação urbana e recuperação de áreas degradadas, antes que novos desastres se repitam.
“Precisamos de planos específicos que contenham como ponto de partida a formação de um sistema de defesa civil forte, município a município, de acordo com características particulares de cada um deles”, defendeu.
Fonte: Jornal Midiamax





















