Com total de 3.623 ataques de escorpiões de janeiro a novembro de 2023, Mato Grosso do Sul registrou média de cinco acidentes todos os dias durante o período, número 13,04% maior que em todo o ano passado. Agora, com o período de férias escolares se aproximando, o setor de saúde entra em nova fase de alerta no Estado, que já contabiliza a morte de três crianças em decorrência de acidentes com o animal.
Há 33 anos envolvido em pesquisas sobre o comportamento dos escorpiões, o Biólogo Isaias Celestino Pinheiro dá dicas valiosas das principais precauções que é preciso levar em consideração.
Segundo o especialista, integrante da equipe do Ciatox-MS (Centro de Informação e Assistência Toxicológica), os tipos mais encontrados e que mais causam acidentes em Mato Grosso do Sul são escorpiões amarelos das espécies Tityus confluens e Tityus serrulatus. O primeiro, responsável por casos mais leves, caracterizados basicamente por quadros de dor. Já o segundo, faz parte da lista das três espécies mais perigosas do mundo e responsável por mortes de crianças e idosos em todo o País.
Como saber identificar as espécies?
De acordo com Isaias, algumas características permitem diferenciar uma espécie da outra. Mas atenção! A identificação é feita pela análise da parte traseira da cauda, próximo ao ferrão. Por isso, vale lembrar que isso só deve ser feito apenas com o animal morto.
“O Tityus confluens tem a extensão da calda em um tom amarelo, alaranjado ou marrom e não tem mancha nenhuma. Agora, se perto do ferrão tiver uma mancha preta, essa marca preta nos permite identificar que é o Tityus serrulatus, aquele que tem uma toxina capaz de causar acidentes que levam ao óbito. Nesse caso, o alerta é total e o conselho é entrar em contato com a Ciatox ou com o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses)”, explica.
Dedetização resolve o problema?
Na avaliação do biólogo do Ciatox, dedetizar imóveis tem função importante no controle, no entanto, não atua diretamente na morte dos animais.
“Escorpião é um bicho complicado para se fazer controle químico com inseticida. Ele tem uma estrutura na barriga em forma de pente, que tem uma função que consegue identificar facilmente substâncias tóxicas”, detalha.
Assim que sente indícios de produtos que podem ser letais, instintivamente os animais se escondem para ambientes de difícil acesso. “Ele volta ao local de origem ,que normalmente são as regiões mais profundas da rede de esgoto, embaixo de pilhas de tijolos, entulhos e áreas onde o veneno não chegou. Lá ele fica até um mês e meio esperando que a ação natural desse inseticida acabe”, relata.
Mas afinal, por que o escorpião aparece dentro da sua casa? Em alguma coisa você está permitindo! Sim, essa é a resposta para o surgimento desses animais dentro de algum espaço.
“Normalmente ele vem atrás de alimentos, especialmente baratas, aí aparece a importância de fazer a dedetização e controlar a presença de baratas”, afirma Isaias.
Por isso, manter ambientes limpos é o principal aliado no controle de escorpiões. “Ajuda muito de vez em quando levantar a tampa de esgoto ou caixa de gordura e matar os que estiverem por lá. Além disso, jogar Q Boa e até creolina para que contamine aquela região e ele se mantenha afastado”, aconselha o biólogo.
Período é de risco para crianças
Isaias Celestino afirma que o momento é de alerta para crianças, especialmente para menores de 10 anos. “Agora, estamos em um período de sazonalidade onde o índice de acidentes vai lá em cima. Para quem tem criança em casa, é preciso ter um trato especial pelo menos até o próximo inverno. O quarto deve ser muito bem higienizado todos os dias, importante varrer e passar Q boa no chão, afastar camas da parede, não utilizar colchas que encostem no chão, instalar barreiras [rodos, desinfetante] nas portas e verificar a cama antes de dormir são fundamentais pelo menos nesse período do ano”, lista.
Em caso de acidentes, é preciso procurar uma unidade de saúde. Em Campo Grande, os indicados são os hospitais Universitário, Regional e a Santa Casa.
“A princípio o veneno tem duas ações principais: o quadro local, onde ele comprime terminações nervosas e causam uma dor muito intensa, e a ação que chamamos de cachoeira catecolamina, que atua com dois neurotransmissores importantes que provocam uma aceleração da capacidade cardíaca e respiratória. Em crianças, temos notado uma evolução muito rápida”, pontua.
Ao mesmo tempo em que apresentam quadros de taquicardia, pacientes picados entram em quadro de baixa repentina nos batimentos cardíacos, estresse que provoca inflamação na musculatura.
“O coração tem dificuldade para trazer fluídos de volta e o pulmão coleciona líquidos, edemas e inchaço, causando dificuldade respiratória. Esses dois fatores evoluem para casos severos e de morte, principalmente em crianças. Acontece de a criança chegar em tempo hábil, receber ampolagem correta, mas mesmo neutralizando a ação do veneno essas patologias já estão instaladas e a criança não tem mais problema com a ação do veneno, mas com essas problemas pulmonares e cardíacos”, explica.
No período do ano, o alerta em Mato Grosso do Sul é válido, especialmente para Dourados Campo Grande e para a região do Bolsão. “O aparecimento do escorpião está associado diretamente à urbanização. Quanto mais densamente povoado uma região, mais humanos, mais produção de lixo e mais exposição. Ribas do Rio Pardo é um exemplo clássico disso, tinha cerca de 7 mil habitantes e de repente teve sua população duplicada, por isso as duas mortes que tivemos lá”, finaliza.
Casos em MS
Dados deste ano mostram que foram 311 ataques de escorpiões somente em outubro em Mato Grosso do Sul. No ranking anual, Campo Grande fica em primeiro na lista, com 911 registros, seguido por Três Lagoas, com 554, e Paranaíba em terceiro, com 189 notificações.
Os dados foram divulgados pela SES-MS (Secretaria Estadual de Saúde), nesta segunda-feira (27). A média de acidentes mensais cresceu 23,31%, saindo de 267,08 ataques com escorpiões por mês em 2022 para 329,36 neste ano.
Um dos acidentes mais recentes foi de uma criança de um ano de idade, moradora de Campo Grande, que foi internada no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul).
Outro destaque é o aumento ano a ano no número de mortes provocadas por escorpiões em Mato Grosso do Sul, pelo menos desde 2011.
O Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde, mostra que a quantidade de vítimas fatais cresceu cinco vezes em uma década, saindo de 2 mortes em 2011 para 10 óbitos em 2022.
Fonte: Jornal Midiamax