Ao mesmo tempo em que a ONG evangélica Missão Caiuá, sediada em Dourados, deve receber R$ 213 milhões até o fim do ano, indígenas do mesmo município destacaram junto ao Correio do Estadoa falta de medicamentos e água de qualidade nas aldeias do interior de MS.
“Nossa saúde aqui está precária, no posto de saúde não tem nada de medicamento. Estamos sem viatura e sem telefone para ligar no polo base de Dourados”, disse Reinaldo Arevalo (Dinho), Capitão da Aldeia Bororó.
De acordo com o líder da comunidade indígena, além da ausência de remédios e assistência básica, o povo indígena local convive diariamente com a falta d’água, o que segundo ele afeta a qualidade e consequentemente causa diarréia, principalmente nas crianças. “Não está fácil e eu sei que tem dinheiro. A questão principal é não saber administrar essa verba, que interessa não somente a Aldeia Bororó quanto a Aldeia Jaguapiru”, frisou Dinho
Sem se identificar, um dos líderes da Aldeia Jaguapiru, também de Dourados, destacou a precariedade do acesso à àgua na aldeia. “Trabalho na parte de saneamento e em um dia a gente tem água, no outro não tem”, pontuou. Questionado sobre a presença da Ong Missão Caiuá nas atividades da região, o líder mostrou-se surpreso com as recentes descobertas.
“Trabalho para a ONG Missão Caiuá, sou contratado por eles, mas não chegou na aldeia. Fora a saúde, medicamento, essas coisas, não tem. Nos reunimos com os gestores de lá e eles reclamaram bastante que a Missão Caiuá tá sem verba para pagar funcionários, almoço, medicamentos, essas coisas. Fico espantado de saber que vem tudo isso aí (dinheiro) e os gestores estão reclamando da falta de verba”, finalizou.
Contexto
Sediada em Dourados, a ONG evangélica Missão Caiuá (organização que já recebeu cerca de R$ 872 milhões em contratos para cuidar da saúde indígena entre 2019 e 2022), deve receber outros R$ 213 milhões até o fim do ano.
Os repasses identificados por meio do Portal da Transparência do Governo Federal apontaram que a organização possui dez contratos em vigência junto ao Ministério da Saúde.
De acordo com o portal, o contrato mais antigo ainda em curso, foi firmado em dezembro de 2013.
Orçado em R$ 203.509.681,99, a ONG já recebeu R$ 174.277.696,25 do total do contrato mais antigo, e conforme o vínculo indicado pela transparência governamental, o contrato entre as partes expira em outubro deste ano, ao passo que os demais, assinados em 2019, têm prazo de vencimento datado em dezembro de 2023.
A reportagem do Correio do Estado entrou em contato do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei/MS) a fim de saber qual o panorama sobre as verbas utilizadas na saúde indígena do Estado, entretanto, não obteve retorno até o momento. O espaço segue aberto.
Fonte: Agência Brasil