Corredores que custaram R$ 7 milhões reduziram percurso de ônibus em 5 minutos, mas ainda desagrada moradores

Foto: Ponto de embarque e desembarque no corredor da Rua Brilhante. (Foto: Marcos Ermínio)

Três meses após inauguração do corredor de ônibus da Rua Brilhante, obra com custo aproximado de R$ 7 milhões, a Prefeitura de Campo Grande aponta melhora no fluxo de veículos na via, com redução de cinco minutos no tempo utilizado no percurso. A expectativa é de que com ativação dos 70 km de corredor em toda a cidade, a velocidade média dos coletivos aumente em 62%, chegando a 25 quilômetros por hora.

“Os corredores são tendência em muitas cidades e levam melhorias para o transporte coletivo, hoje, usado por mais de 100 mil pessoas”, pontua o secretário municipal de infraestrutura, Rudi Fioresi. Ao todo, os 70 km de corredores custarão R$ 116 milhões e fazem parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento Mobilidade Urbana).

Apesar das vantagens apontadas pelo Município, as adaptações implantadas para desafogar o trânsito ainda enfrentam resistência e dividem opiniões. Na Brilhante, onde todas as etapas da obra já foram concluídas lojistas seguem relatando queda na clientela enquanto moradores apontam transtornos para entrar ou sair das garagens.

Hoje, com as vias preferenciais para o transporte coletivo, outros condutores estão proibidos de estacionar ou circular na faixa esquerda, exceto para fazer conversões.

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Motoristas são proibidos de transitar e estacionar na pista destinada aos ônibus. (Foto: Marcos Ermínio / Midiamax)

Reclamações

No cruzamento da Brilhante com a Rua Mário Quintanilha, acessar um posto de combustíveis da região virou “trabalho de ninja”. Com veículos proibidos de parar e com um ponto de embarque e desembarque bem no meio da rua, a empresa viu o movimento cair em 30%.

“Atrapalhou muito. A pessoa quer entrar no posto para abastecer, mas acaba desistindo porque não pode parar, nem reduzir a velocidade. Para completar ainda tem o ponto de ônibus no meio”, comenta o frentista Evandro Ferreira da Silva, de 34 anos.

De acordo com ele, boa parte dos condutores ainda não se familiarizou com as mudanças feitas. Como resultado: bagunça entre motoristas e acidentes recorrentes. “Ninguém sabe se pode ou em qual ocasião pode entrar na faixa do ônibus. Muito motorista ainda não entendeu como funciona e fica com medo. Todo dia a gente vê acidente aqui”, acrescenta.

Hoje, na extensão de 7 quilômetros da Rua Brilhante, a faixa da esquerda é exclusiva para trânsito de ônibus. A faixa do meio e da esquerda é dividida pelo restante dos condutores.

“Atrapalhou muito o comércio porque não se pode mais parar para acessar as lojas. Para moradores também. Outro dia minha vizinha também levou uma multa porque teve de parar para abrir a garagem onde ela iria entrar para guardar o carro”, relata o mecânico José Donizete Ribeiro, de 50 anos.

Para conversões à esquerda, o morador revela que a história é uma “novela” a parte. “Muito motorista vem da faixa do meio e faz a conversão. Não entenderam que para virar à esquerda podem entrar na faixa dos ônibus” acrescenta o mecânico que mora há 10 anos na região e viu a quantidade de acidentes crescer pela falta de atenção de quem ainda não se adaptou às novas regras da Rio Brilhante.

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Na Rua Rui Barbosa, construção de novo corredor começou no fim do mês de fevereiro. (Foto: Marcos Ermínio / Midiamax)

Novos corredores

Na Rua Rui Barbosa, equipes da Prefeitura trabalham há meses na construção de novo corredor que será inaugurado. Antes mesmo da ativação, comerciantes já dizem amargar prejuízos. “Começaram a mexer aqui dia 26 de fevereiro e, desde então, meu movimento caiu 80%, demiti duas funcionárias e além de fazer empréstimos no banco, até dinheiro com agiota eu peguei”, relata a empresária Rosimeire Dias, de 46 anos.

Na avaliação do secretário municipal de Obras, Rudi Fioresi, as reclamações de moradores comerciantes fazem parte do período de adaptação na cidade. “De um modo geral as pessoas resistem a qualquer mudança, mas, com o tempo, as coisas vão se encaixando”, pontua.

Para especialista de trânsito ouvido pelo  diante dos transtornos apontados por lojistas e moradores, é baixa a resolutividade da adaptação feita pelo Município para resolver o problema de fluxo de veículos.

“A via virou um puxadinho. Não foi projetada, foi adaptada. Tirou-se o fluxo normal de veículos leves e inseriu-se uma tubulação adaptada para os de grande porte. Ainda foram inseridas as paradas no centro como se fossem obstáculos. Que solução foi feita? ”, questiona o engenheiro e especialista em segurança do trânsito, Albertoni Júnior.

Segundo o engenheiro, falhas no sistema de rolamento são evidentes especialmente nos horários de pico, quando há sobrecarga nas pistas. ” O que acontece hoje é que a via fica completamente ocupada e saturada. Até mesmo nos corredores os ônibus acabam tendo que manobrar, entrar na diagonal para acessar a rua e fugir da fila”, afirma.

Além da criação de corredores fechados e exclusivos para ônibus, a exemplo de Cuiabá, umas das alternativas apontadas por Albertoni é educar condutores para que utilizem rotas alternativas.

“Muitas vezes a população não busca rotas diferentes porque não sabe onde elas estão. A Prefeitura precisa mostrar e ensinar que essas vias podem ser utilizadas. Isso é educação de trânsito. Eu tiro o fluxo das vias já que não tenho como aumentar espeço físico delas”, finaliza.

 

Fonte: Jornal Midiamax

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