Produto ainda não foi enviado pelo Ministério da Saúde e período de chuvas é preocupante
Desde julho deste ano, Mato Grosso do Sul não tem mais estoque de inseticida para utilizar no fumacê de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Em Campo Grande, a fumaça com o produto químico é usada nas viaturas da Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais (CCEV) da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) e espalhada pelos bairros. A aplicação do inseticida visa atingir, principalmente, as fêmeas do mosquito causador das doenças, mas é possível que outras espécies de insetos sejam atingidas e, por isso, a utilização deste método de aplicação deve ocorrer de forma criteriosa.
Mas não é só Mato Grosso do Sul que está com o produto químico em falta. Outros estados como Minas Gerais, Espírito Santo e o Paraná por exemplo também passam pelo mesmo problema desde julho.
Dados da Sesau apontam que as notificações de dengue caíram de 160 em novembro para 30 casos em dezembro. O maior índice de casos foi em março, quando 9.721 notificações foram registradas.
Segundo disse o secretário municipal de saúde, José Mauro, em agenda pública, a falta do fumacê acontece porque o produto não foi enviado e o que havia em estoque não estava próprio para uso. “A questão agora é atuar em outras frentes e novos projetos, como o Wolbachia, que comprovadamente tem o efeito em outros estados, e vai ser implantado no ano que vem. A melhor forma de combater a dengue é a educação da população de não deixar lixo, isso já é comprovado cientificamente”, destacou.
De acordo com a Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande, Veruska Lahdo, o fumacê é um bom aliado ao combate do mosquito Aedes, mas não é o fator principal do combate. “A gente tem outras maneiras mais eficazes de combater o mosquito, que é o controle mecânico, visitas nas casas e também o apoio da população no cuidado do quintal. O inseticida ajuda e não dá chance para os mosquitos, mas não é a principal ferramenta utilizada”, explicou.
Para Veruska, mesmo nos quatros meses sem o produto não houve aumento significativo de focos da doença. “As chuvas estão começando então é comum ter aumento de casos em janeiro e fevereiro, por conta do calor também, a gente vem monitorando todo trabalho por meio dos mutirões e não teve aumento significativo. O trabalho continua, a equipe está preparada, mesmo não havendo uma das ferramentas”, disse.
Priscilla Alexandrino é médica infectologista e confirmou que o produto não é exclusivamente fator eliminatório do mosquito. “Os focos são intradomiciliares, o inseticida é uma ferramenta que ajuda, mas não é de forma isolada, então é possível fazer o combate sem o produto, vai também da conscientização de cada pessoa em cuidar para não aumentar os focos dentro da própria casa”, finalizou.
A reportagem entrou em contato com o Ministério de Saúde sobre a falta do inseticida e previsão de envio para Mato Grosso do Sul e outros estados, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
BACTÉRIA WOLBACHIA
Em abril deste ano, foi lançado em Campo Grande o projeto de combate a dengue. Trata-se do método para infectar mosquitos Aedes aegypti clinicamente com a bactéria Wolbachia para combater outros mosquitos transmissores da doença.
A expectativa é reduzir o número de pessoas infectadas pelos vírus transmitidos pelo Aedes e ao mesmo tempo aumentar a população de mosquitos infectados com a Wolbachia, bloqueando assim a infecção da população.
Esta pesquisa com mosquitos infectados com a bactéria começou na Austrália em 2005. No Brasil, os estudos começaram a ser realizados em 2015, na cidade de Niterói (RJ) e agora, essas unidades do mosquito serão introduzidas em Campo Grande, Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).
Em Campo Grande, 400 pessoas participam dos testes com a vacina e o projeto está previsto para ser implementado em 2020.
Correio do Estado