Incêndios já causaram prejuízo de meio bilhão de reais a produtores do Pantanal

Os incêndios florestais registrados entre 2016 e 2021 geraram prejuízos no País, principalmente para a iniciativa privada no setor da pecuária e da agricultura, no valor de R$ 1,1 bilhão.

Mato Grosso do Sul foi o estado onde esse fogo mais destruiu estruturas, e setores produtivos na federação ficaram com 46% do prejuízo apurado em todo o Brasil, ou, em valor absoluto, R$ 533.171.486,00.

Os dados são de levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com os relatórios obtidos no Ministério do Desenvolvimento Regional.

Essa estatística foi apresentada durante evento realizado no Sebrae/MS, em Campo Grande, para apontar como os incêndios e as queimadas causam impacto negativo para a iniciativa privada.

A CNM catalogou os dados a partir das informações que as defesas civis estaduais e municipais precisam apresentar após decretos de situação de calamidade pública e estado de emergência.

Nesta realidade de incêndios de grandes proporções, que tiveram seus picos no País e no Pantanal entre 2019 e 2021 por conta do combustível que o tempo seco acaba fornecendo e da falta de ações de prevenção e combate mais efetivo, os relatórios apontaram que o setor da pecuária é o que tem mais prejuízo.

Em todo o País, o valor foi de R$ 658.097.836,00, enquanto a agricultura sofreu perdas identificadas de R$ 144.038.050,00. O terceiro nesse ranking ficou com as instalações públicas que foram danificadas, somando R$ 103 milhões.

“Este é um panorama dos efeitos dos incêndios. Porém, pela ausência de equipes capacitadas e especializadas, os gestores municipais têm dificuldade em avaliar os danos e prejuízos causados pelas queimadas. Quando eles preenchem os dados no sistema, não estão avaliados como deveriam.

Por isso é importante a União e os estados darem apoio técnico”, explicou a analista da CNM Sofia Araújo Zagallo, durante o 1º Fórum Fogo e Desenvolvimento Sustentável no Pantanal, realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Sebrae/MS e governo do Estado.

A diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa, dra. Fabiana Villa Alves, situou que a pecuária é a única atividade econômica que está presente em todos dos 5.568 municípios e por isso qualquer impacto negativo é passível de atingir o setor.

No caso de Mato Grosso do Sul, são mais de 19 milhões em rebanho, em que cerca de 4 milhões estão no Pantanal do Estado, enquanto outros 4,5 milhões são criados no centro-norte. Além disso, quase 6 milhões ficam no leste sul-mato-grossense, conforme Pesquisa da Pecuária Municipal, do IBGE, de 2020.

De acordo com ela, que foi pesquisadora da Embrapa de Gado de Corte, além dos prejuízos financeiros para os criadores, os incêndios florestais causam outro dano, que é o desencontro das políticas ambientais e a repercussão internacional negativa para os mercados.

O governo federal atualmente tem o Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Plano ABC+), que envolve planejamento para reduzir danos ao meio ambiente, atendendo pactos internacionais.

“Eu posso dizer que o Brasil talvez foi um dos países que trouxe realmente resultados concretos em questão de mitigação e de adaptação diante das mudanças do clima”, defendeu.

O presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, explicou que o fogo tem sido usado como manejo para pastos, tanto no Pantanal como na agricultura. Ele, porém, reconhece que é preciso usar a técnica com cuidado para se evitar prejuízos econômicos e ambientais.

“Tem propriedade que o fogo queimou toda a cerca, todo o mangueiro. O fogo traz prejuízo para todo mundo. A gente precisa ter uma discussão madura, precisamos, sim, fazer o fogo controlado. As pessoas têm de olhar o produtor rural como parceiro, não olhar como bandido. Entender que se o produtor rural for um aliado, é o melhor para o Pantanal”, defendeu Bertoni, também ao falar no fórum.

Mesmo com os prejuízos acumulados, o agronegócio acaba se autossustento com esses impactos porque os valores das mercadorias acabam sendo elevadas nesse período.

Esse autorreajuste de preços, em partes pela falta de produto no mercado, o que acaba sendo causado pela repercussão do incêndio em plantações e criações, ajuda a compensar os números negativos de forma geral. Os danos pontuais, porém, permanecem para diferentes pecuaristas.

Como forma de sinalizar essa realidade de superação dos prejuízos com cifras muito maiores na venda dos produtos da agropecuária, para 2022 a previsão da rentabilidade do setor em Mato Grosso do Sul é de que supere os R$ 82 bilhões em Valor Bruto da Produção (VBP), puxada pela alta dos preços da soja, do milho e, em menor grau, o valor da arroba.

No Estado, medidas de prevenção aos incêndios estão ocorrendo de forma mais efetiva desde 2021, com capacitação de mais de 300 gerentes e funcionários de fazendas, bem como moradores de áreas críticas, tudo promovido pelo BID, Mapa, Sebrae/MS e Bombeiros.

Polícia Militar Ambiental também conduz operação de prevenção ao fogo, e a Famasul promove medidas educativas em propriedades rurais no Pantanal e em outras regiões.

Fonte: Correio do Estado

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