O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu a maior marca para um mês de março desde 2015. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anunciados nesta sexta-feira (8), Campo Grande apresentou 1,73% de alta em comparação com fevereiro.
Em 2015, o mês marcou 1,79%. No acumulado daquele ano, a inflação também era maior do que a atual. Considerando os meses de janeiro, fevereiro e março, o acumulado estava em 3,91%, contra 3,44% deste ano.
Nos oito períodos pesquisados, esses foram os únicos dois anos em que a inflação esteve acima dos 3% nesta altura. Já em 2016 e 2021, foram outros dois períodos que apresentaram mais de 2% no acumulado, 2,37% e 2,43%, respectivamente. Nos meses de março, no entanto, as altas foram de 0,43% e 0,96%.
Em contrapartida, nos mesmos períodos de 2017 e 2018, foram observados os números mais brandos da série analisada, 0,14% e deflação de 0,35%, respectivamente. No acumulado, 2017 marcava inflação de 0,94% nesta altura do ano e em 2018 a deflação estava em 0,05%.
Com os números do IPCA atingindo marcas tão altas na série histórica, o cenário que se desenha é ainda mais grave, se analisados os principais grupos essenciais da economia cotidiana: alimentos e bebidas e os combustíveis.
Campo Grande teve alta de 2,58% em alimentos, em comparação com fevereiro deste ano. O último mês também havia apresentado alta, mais contida, no entanto, de 1,62%. No acumulado em 2022, o grupo soma alta de 5,18% na Capital.
Os principais vetores de alta nos primeiros meses de 2022 foram os subgrupos de tubérculos e raízes, contribuindo com acumulado de 38,14%, hortaliças e verduras com 41,47% e frutas atingindo 14,60%.
Nesse recorte anual, apenas o grupo de educação apresentou altas maiores do que alimentos e bebidas, 6,43% até aqui.
O grupo que mais pressionou a alta em março foi o de transportes, que apresentou 2,78% de variação. Em particular, o subgrupo de combustíveis forçou o resultado. Com o mega-aumento da Petrobras no começo do mês, a variação ficou em 4,44%.
Professor de Economia da UEMS, Mateus Abrita diz que o indicador mostra o resultado dessa alta. “Estamos sentindo a alta dos combustíveis chegando ao consumidor de forma direta, no caso da gasolina e do diesel, e de forma indireta, porque impacta o custo de produção, frete e transportes”, explicou.
Já o doutor em Economia Michel Constantino ressalta que o aumento nos grupos de alimentos é também um reflexo da demanda e oferta no mercado regional.
“Em Campo Grande, nós temos um efeito forte de demanda e importamos de outros estados vários hortifrútis, o que impacta nos custos. Além disso, a oferta de produtos em MS é menor, o que faz com que os preços aumentem por falta de concorrência”, explica.
SACOLÃO
Proprietário de um mercado hortifrúti na região do Monte Castelo, Maurício Goiaba afirma que em 32 anos de trabalho no ramo não viu cenário igual ao atual.
“Estamos com uma inflação em alta e o ganho não acompanha. Não podemos colocar uma margem justa, e o custo do comerciante também está muito alto, chegou ao ponto de faltar produto”, revela.
O comerciante cita o caso do mamão formosa, indisponível para a compra. “Chegamos a um ponto em que se tem dinheiro para comprar, mas não tem oferta do produto”.
Outro item que tem apresentado forte alta nos últimos meses é o tomate. De acordo com o empresário, “nos últimos quatro meses, o preço da caixa em Campo Grande não passou de R$ 80,00, R$ 90,00. Hoje, ela é comercializada a R$ 180,00”.
Nessa semana, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou alta de 5,51% na cesta básica em um mês e colocou o tomate entre os que mais tiveram alta na Capital, de 51,74%, corroborando com o relato de Maurício Goiaba.
Michel Constantino explica que “o movimento mundial dos Bancos Centrais é tentar conter o aumento de preços, porém, as commodities, o petróleo e a energia, estão com suas cadeias produtivas em desequilíbrio, e por enquanto devem ainda afetar com força os preços”.
MARÇO
A aceleração de 1,73% em Campo Grande deixa a Capital atrás apenas de Curitiba, Goiânia e São Luís. As respectivas cidades apresentaram altas observadas de 2,4%, 2,1% e 2,06%.
Nos últimos doze meses, o acumulado saltou para 12,02%.
Fonte: Correio do Estado