Mergulho no inferno: ameaçada por três agiotas, mulher fugiu para o Paraguai

Foto: Mensagens enviadas por agiota para a vítima no dia 24 de dezembro, véspera de Natal. (Foto: Reprodução)

Endividada com três agiotas, comerciante de 38 anos chegou a fugir de Campo Grande para Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, mas hoje, não sabe mais para onde correr.

Ela entregou dinheiro, geladeira, televisão, o estoque da loja de calçados. Porém, nada parece ser capaz de quitar dívidas que se alimentam de juros sobre juros. Na véspera de Natal, quando já tinha conseguido fugir para a fronteira, o agiota mandou um recado nada sutil: “Ou eu recebo ou eu te quebro”.

Acuada pelo medo de ser morta, ela garante que esse não é um drama particular e que tem muita gente vivendo em silêncio o inferno de estar preso a uma dívida sem fim.

A história dela e da agiotagem se cruzaram no ano passado. Dona de uma pequena loja de sapatos, a comerciante decidiu ligar para o número do cartão que anunciava “dinheiro rápido” e solicitou empréstimo de R$ 1.500.

Os cartões são distribuídos pelas vias comerciais e, nas palavras da vítima, ficam piscando como “diabinhos” aos olhos de quem sabe que vai faltar dinheiro para quitar as contas do mês.

O empréstimo com o agiota se deu nos seguintes termos. Ao fim de 30 dias, ela pagaria R$ 1.900. Caso não tivesse a quantia total, passaria a pagar os juros de R$ 400 por cada mês com o débito em aberto. A comerciante assinou nota promissória e, passado o primeiro prazo, não consegui quitar os R$ 1.900, caindo na armadilha dos juros sobre juros.

Eu pagava os juros de R$ 400 todo mês, mas no sexto mês, não consegui pagar. Ele passou a cobrar também R$ 50 por cada dia de atraso. Mas não tinha mais dinheiro”.

Um cálculo simples mostra que ela pagou R$ 2 mil em juros, valor maior do que a dívida inicial. Mas nessa modalidade de negociação, todas as regras são do agiota, que costuma ir cobrar com um revólver aparecendo, casualmente, na cintura.

“Do outro lado da rua, ficam outros dois te olhando e o agiota fala que eles vão te pegar”, relata. Desnorteada, ela partiu para o segundo empréstimo com agiota, no valor de R$ 900. A intenção era pagar o juro mensal e a diária cobrada pela primeira dívida, mas a comerciante se viu num novo ciclo de ameaças.

“Aí, fiz empréstimo de R$ 1.500 com um terceiro agiota. Mandavam ameaça toda hora. Fechei a loja, entreguei os calçados para eles, tinha um pouco de roupa na loja também. Levaram tudo”, afirma.

Mas a escalada dos juros não tinha fim e ela precisou se esconder. “Começaram a ameaçar a minha família. Pularam o muro da casa da minha. Fugi de madrugada para o Paraguai, onde tenho família”, diz. Ela até trocou de número do celular, mas eles rondam a residência de seus familiares em Campo Grande.

Escondida, não consegue trabalhar e vive da caridade dos parentes, que doam um pacote de arroz, um pedaço de frango.

Não consigo ter vida, sinto medo de tudo. Não procuro a polícia, porque eles dizem que têm amigos policiais. Um deles até falava que é policial também. Por que você acha que as pessoas não denunciam? É por medo. Sei que tem muita gente em Campo Grande passando por isso.”

 

 

– CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

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