Mato Grosso do Sul está bem longe de ser um estado populoso e com seus 2,7 milhões de habitantes ocupa a 21ª posição no País em número de moradores, atrás de Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e na frente de Roraima, Amapá, Acre, Rondônia e Tocantins.
Mas a população sul-mato-grossense consegue superar todas essas unidades federativas quando o assunto é produzir lixo, ocupando a quarta posição em um ranking nacional.
A média é que cada morador do Estado produz 336 quilos por habitante de resíduos sólidos urbanos por ano. Isso representa uma média de 926,3 milhões de kg de lixo gerados anualmente, algo que precisaria de 92,6 mil caminhões de lixo para transportar a aterros sanitários ou lixões.
Essa análise sobre a produção de resíduos foi elaborada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Centro Brasil no Clima, no Anuário Estadual de Mudanças Climáticas, para orientar governos estaduais, federal e instituições internacionais sobre políticas públicas e investimentos.
O documento foi divulgado neste ano, quando acontece a COP30 em Belém (PA), para tentar contribuir em alterações que possam auxiliar o País a reduzir impactos das mudanças climáticas.
“Apenas oito estados foram destacados pelo Sistema Nacional de Gestão dos Resíduos Sólidos [Snir] [2021] por fazerem algum tipo de tratamento de seus resíduos [compostagem, incineração, reciclagem ou recuperação energética]: São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal”, analisou os pesquisadores do anuário.
Conforme Fernanda Fortes Westin, Beatriz Oliveira de Araújo e João Cláudio Rocha Baeta Leal, autores do estudo, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) preconizou o fortalecimento da fiscalização e do monitoramento das práticas de gestão de resíduos, bem como no investimento em infraestrutura adequada para a coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos.
“São medidas adicionais que podem ajudar a reduzir os impactos ambientais e promover um desenvolvimento mais sustentável”, observou o anuário, em conjunto com avaliação feita pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).
LIXO SEM CONTROLE
O Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS), em sua análise mais recente, divulgada em 2023, mostrou que 66 dos municípios sul-mato-grossenses (84%) ainda não conseguiam fazer a pesagem rotineira do lixo coletado.
Sem conseguir identificar de forma precisa a quantidade que é recolhida, há uma lacuna de dados para auxiliar na melhor política da gestão de resíduos. Além disso, a coleta seletiva não existe em 36 cidades (46%), o que deixa o potencial de reciclagem defasado.
Apesar das defasagens, o TCE-MS apontou que entre 2016 e 2022 houve uma evolução para o fim dos lixões em Mato Grosso do Sul.
No último levantamento feito, são nove cidades que permanecem com lixões ativos: Corumbá, Ladário, Sonora, Pedro Gomes, Rio Verde de Mato Grosso, Camapuã, Antônio João, Ponta Porã e Anaurilândia. Desses municípios, três deles estão no Pantanal: Corumbá, Ladário e Rio Verde de MT.
INICIATIVAS
Em Mato Grosso do Sul, há o Plano Estadual de Resíduos Sólidos (Pers-MS), que foi aprovado em 2020, só 10 anos depois que o plano nacional tinha sido instituído.
Entre as discussões que existem no Estado para aprimorar a conscientização sobre como lidar com o lixo diário está o direcionamento para que as disciplinas de Ciências e Biologia das redes municipais e estadual passassem a trabalhar com o tema de forma regular e constante.
Por conta disso, a Universidade Estadual de MS (UEMS) implementou algumas medidas, como o curso de extensão sobre o tema resíduos sólidos.
O campus de Ivinhema, por exemplo, passou a ter na sua grade aulas para futuros professores sobre o assunto. Além disso, uma iniciativa desenvolvida em 2024 buscou alcançar professores de todo o Estado. O primeiro curso promovido para todo o Estado foi realizado de forma EAD e teve 52 inscritos, com 23 participantes aprovados, entre eles foram oito professores da educação básica.
“O desconhecimento da legislação relacionada aos resíduos sólidos revelou-se um ponto frágil, o que demonstra a necessidade de ofertas contínuas com formação e capacitação que sejam contextualizadas à realidade estadual, sendo a extensão universitária uma oportunidade efetiva para essas ações”, identificaram Alessandra Ribeiro de Moraes, Gislayne de Araújo Bitencourt e Maria Rita Mendonça Vieira, pesquisadoras da UEMS.
Matéria: Correio do Estado