Mato Grosso do Sul (MS) está entre os três estados com maior área de pastagens degradadas no Brasil, em 3º lugar, com 4,3 milhões de hectares, com potencial para a produção de grãos, principalmente soja e milho. Os dados fazem parte do relatório Radar Agro, elaborado pelo Itaú BBA e intitulado “Áreas de pastagens degradadas e potencial de conversão para lavouras no Brasil”;
Conforme o estudo, a conversão dessas áreas degradadas em lavouras representa uma alternativa estratégica para expandir a produção, evitar novos desmatamentos, contribuir para a redução das emissões de CO₂ e, ainda, estimular a valorização das terras, especialmente em Mato Grosso do Sul, que já se destaca pelo valor das terras em termos absolutos.
Para o analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz, a transformação dessas áreas tende a valorizar ainda mais as terras sul-mato-grossenses, hoje beneficiadas pela localização estratégica do estado, tanto para o escoamento de grãos quanto pela infraestrutura acima da média nacional.
Além disso, essa preparação pode evitar sanções diante da nova regulamentação europeia sobre questões ambientais, que começa a valer no fim deste ano.
“No limite, não teríamos restrições de mercado”, avalia Queiroz. A legislação prevê sanções severas para empresas e indivíduos que violarem as regras, incluindo a proibição da importação de produtos provenientes de áreas desmatadas após 2020.

De acordo com o levantamento, que mapeou 28 milhões de hectares de pastagens degradadas em todo o País,, as áreas aptas para conversão são lideradas por Mato Grosso (MT), com cerca de 5 milhões de hectares, com potencial de gerar até R$ 181,1 bilhões de um total nacional estimado em R$ 904,7 bilhões.
Em seguida, aparecem Goiás (4,7 milhões de hectares, com potencial de R$ 144,4 bilhões) e Mato Grosso do Sul (4,3 milhões de hectares, com impacto estimado em R$ 168,2 bilhões) e líder no ranking com as terras com os preços mais altos em valor absoluto.
Ou seja, caso os 28 milhões de hectares fossem convertidos em produção agrícola, o Brasil poderia evitar a emissão de até 3,5 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente, segundo o estudo. Além disso, haveria um impacto expressivo na valorização fundiária, estimado em R$ 904 bilhões, e um aumento de 52% na produção nacional de grãos.
Centro-Oeste lidera área potencial de conversão
Maior produtora agrícola do País, a região Centro-Oeste, que concentra a maioria (51%) das áreas de pastagens degradadas com potencial de expansão agrícola, pode elevar em mais de R$ 30 mil por hectare, em média, o valor das pastagens degradadas convertidas em áreas produtivas. Para os especialistas do Itaú BBA, na média nacional, as terras de lavoura valem cerca de 2,4 vezes o preço das terras de pastagem equivalentes — embora a valorização varie entre regiões, dependendo da oferta de terras e das produtividades locais.
Nesse cenário, Mato Grosso do Sul se destaca, no Centro-Oeste, pelo alto valor das terras em termos absolutos. O preço médio das pastagens no estado é de R$ 22,2 mil/ha, enquanto o valor para áreas destinadas à produção de grãos é previsto em R$ 60,9 mil/ha — uma valorização potencial de 175%, embora abaixo da média nacional em termos percentuais, que é 244%, liderada por Piauí, com 789%, e Bahia, 529%.
O estudo observa que, em regiões sul-mato-grossense com solo argiloso, boa infraestrutura e histórico de alta produtividade, o hectare pode ultrapassar os R$ 100 mil.
Outros fatores, segundo o analista do Itaú BBA, influenciam na valorização fundiária sul-mato-grossense, como a fertilidade do solo e a capacidade de produção de até duas safras por ano, além da logística para o escoamento da produção.

“Existe uma carência de infraestrutura logística no Brasil como um todo. Mas, considerando a média nacional, Mato Grosso do Sul, que já é consolidado na produção agrícola, possui uma estrutura um pouco mais desenvolvida. Isso acaba fazendo com que as terras do estado, em valores absolutos, já sejam bastante valorizadas”, explica Queiroz.
Embora o impacto da Rota Bioceânica ainda não esteja incluído no estudo, Queiroz acredita que o corredor logístico — que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico e colocará Mato Grosso do Sul como região estratégica, por meio de uma rede de estradas e pontes passando por Paraguai, Argentina e Chile — tende a valorizar ainda mais a região.
Área recuperada
Apesar da ampla extensão de pastagens degradadas, Mato Grosso do Sul também ocupa hoje a terceira posição entre os estados com maior área recuperada, ficando atrás somente de Mato Grosso (MT) e Goiás, conforme afirma o analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Segundo ele, o programa Reverte, iniciativa da Syngenta em parceria com o banco, já recuperou aproximadamente 22 mil hectares em Mato Grosso do Sul. Isso representa cerca de 8,5% do total de áreas degradadas no estado. Em todo o Brasil, o programa já converteu cerca de 260 mil hectares.
Para restaurar os 4,3 milhões de hectares degradados no Estado, seriam necessários cerca de R$ 75 bilhões. Em âmbito nacional, o investimento estimado para converter os 28 milhões de hectares de pastos degradados gira em torno de R$ 482,6 bilhões.

A recuperação dessas áreas, no entanto, depende da superação de vários desafios. Entre eles, destacam-se a ampliação do acesso ao crédito com prazos e condições compatíveis com o ciclo de retorno do investimento, a expansão da assistência técnica e o fortalecimento da capacitação no campo.
“Com uma das maiores áreas de pastagens do mundo, o Brasil tem potencial para ampliar sua produção agrícola sem a necessidade de desmatar novas áreas de vegetação nativa. Cada hectare convertido é um hectare a menos que poderia ser desmatado”, destaca o especialista.
O financiamento ainda é um dos principais entraves, já que para converter toda a área de pastagens degradadas em lavouras seriam necessários investimentos de quase R$ 500 bilhões, valor que inclui custos com aquisição de maquinário e infraestrutura. No entanto, se o produtor já possuir esses recursos, o gasto cai pela metade.
O esforço demanda uma articulação entre iniciativas públicas e privadas, visando resultados sustentáveis em médio e longo prazos — tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. “A otimização do uso da terra é essencial para a conservação da biodiversidade”, reforça o analista.
Ele ainda ressalta que a tendência é de que a pecuária se torne cada vez mais intensiva, à medida que áreas degradadas sejam convertidas para a produção de grãos, especialmente soja e milho. Esses grãos, por sua vez, acabam sendo destinados à alimentação de bovinos, aves e suínos, fortalecendo toda a cadeia da pecuária e contribuindo, no futuro, para a estabilidade dos preços dos alimentos.
Matéria: Campo Grande News





















