A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, enfrenta acusações de assédio moral e xenofobia, feitas por ex-servidoras de sua equipe. Os relatos divulgados pelo Estadão, envolvem práticas de hostilidade, cobranças excessivas e discriminação. O caso já chegou à Controladoria-Geral da União (CGU) e da Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República para investigação.
Além de Cida Gonçalves, outras servidoras do ministério, incluindo a secretária-executiva Maria Helena Guarezi, a corregedora Dyleny Teixeira Alves da Silva e a ex-diretora de Articulação Institucional Carla Ramos, também foram citadas nas denúncias.
Os documentos e áudios obtidos pelo Estadão revelam episódios de ameaças de demissão, gritos e cobranças de resultados em prazos apertados, que teriam afetado a saúde e o bem-estar das servidoras. Tais práticas podem configurar assédio moral, conforme apontam as ex-colaboradoras da ministra. Os relatos também indicam manifestações de preconceito, incluindo episódios de racismo e xenofobia.
As denúncias ganham relevância no contexto político atual, uma vez que Cida Gonçalves é uma figura próxima da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Apesar das acusações, a ministra segue no cargo, sem mudanças significativas em sua equipe, e o caso tem sido tratado com discrição dentro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Detalhes
As acusações começaram a se intensificar após o desentendimento entre Cida Gonçalves e a ex-secretária nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, Carmem Foro.
Foro, uma sindicalista do Pará, foi exonerada em agosto de 2024. Segundo as denunciantes, em uma reunião subsequente, Cida fez ameaças veladas à sua equipe, afirmando que aqueles ligados à ex-secretária poderiam perder seus postos.
Nas gravações das reuniões, Cida declarou:
“Eu sei que todo mundo diz que sou uma ministra de gabinete, que ninguém tem acesso, mas é uma mentira. A pessoa mais fácil sou eu. Agora, é verdade que minha agenda é um inferno.” Ela cobrou respeito à hierarquia do ministério, destacando que não permitiria afrontas à sua autoridade, e prometeu exigir mais resultados de sua equipe.
A ministra também revelou um critério de seleção para a nova equipe: “Vou recrutar uma mulher negra, do Norte ou do Nordeste, com viés feminista e bom trânsito político.” Essa afirmação causou desconforto, especialmente entre as servidoras da região Norte, que se sentiram desvalorizadas.
Racismo e xenofobia
Além das acusações de assédio moral, as ex-servidoras relatam episódios de racismo e xenofobia dentro do ministério. Em um dos casos, Maria Helena Guarezi, secretária-executiva do ministério, teria feito um comentário depreciativo sobre o cabelo crespo de Carmem Foro, durante uma reunião em abril de 2024. Foro, que se sentiu humilhada, levou o incidente ao conhecimento da ministra, mas, segundo os relatos, não obteve resposta ou providências.
Outro episódio envolve a corregedora Dyleny Alves, que foi alertada sobre as práticas de assédio, mas se mostrou relutante em tomar medidas. Ela teria explicado que não poderia agir diretamente contra a ministra devido ao foro privilegiado, mas admitiu ter procurado saber da situação de algumas servidoras, especialmente aquelas vindas do Pará, uma atitude que foi interpretada pelas denunciantes como xenofóbica.
A reportagem questionou a assessoria de imprensa da ministra sobre as denúncias, mas até o momento não houve um retorno. Desde o ano passado, Cida tem sido citada pela imprensa nacional como uma das prováveis mudanças do governo Lula que serão anunciadas nos próximos dias.
Matéria: Campo Grande News