MS tem “polos” de falsificação de bebidas alcoólicas em Campo Grande e no interior

Pelo menos três “polos” de fabricação de bebidas alcoólicas falsificadas já foram identificados em Mato Grosso do Sul nos últimos anos. A situação preocupa após cinco pessoas morrerem no estado de São Paulo nos últimos dias após serem intoxicadas com a metanol, composto químico que foi identificado em bebidas alcoólicas.

Ontem, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que, apesar de os casos, até agora, estarem concentrados no estado de São Paulo, principalmente na capital e região na Grande São Paulo, ele acredita que essas bebidas batizadas já podem estar em outros estados.

Em Mato Grosso do Sul, nos últimos três anos, pelo menos cinco pessoas já foram presas pela falsificação de bebidas alcoólicas em Campo Grande, além de outros casos que ocorreram no interior do Estado.

Em maio deste ano um homem foi preso suspeito de distribuir clandestinamente bebidas falsificadas, que eram adulteradas na sua casa. O caso foi investigado pela Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra Relações de Consumo (Decon-MS) que identificou que o falsificador, de 31 anos, tinha um lucro de cerca de R$ 20 mil por semana com o esquema.

Por mês, o investigado teria um ganho de R$ 100 mil. No local foram apreendidas várias garrafas de whisky importadas e nacionais. Ele foi preso em flagrante no bairro Jardim Eliane.

Em outro caso, em agosto do ano passado, três pessoas foram presas suspeitas de vender bebidas alcoólicas falsificadas. no bairro Jardim Centro Oeste, em Campo Grande.

De acordo com a polícia, na época foi descoberto que o grupo utilizava garrafas originais, mas com conteúdo adulterado, com selos e lacres falsificados.

A suspeita da falsificação foi confirmada após uma análise solicitada pela Polícia Civil, que entrou em contato com uma exportadora de bebidas e pediu para que fizessem a análise. O local vendia bebidas destiladas falsificadas.

Já no ano anterior, em outubro, uma operação da Decon-MS ao lado do Secretaria-Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor (Procon-MS) apreendeu R$ 150 mil em bebidas falsas e prendeu três pessoas em quatro estabelecimentos de Campo Grande que comercializavam as bebidas adulteradas ou importadas ilegalmente.

Além desses casos, há investigação sobre polos de fabricação e bebidas clandestinas em Dourados e no Paraguai, na fronteira com Ponta Porã.

“Nós fazemos fiscalizações pontuais em nossas operações, principalmente nos estabelecimentos empresariais que comercializam bebidas, bem como recentemente fizemos fiscalizações em eventos (shows), onde, de forma preventiva, verificamos as bebidas que seriam comercializaras. Nestes casos, verificamos, além da procedência, a autenticidade dos produtos, verificando se a mesma é falsificada ou não”, contou o delegado Wilton Vilas Boas, titular da Decon-MS.

No dia 19 de setembro, lembra o delegado, houve uma uma operação onde uma casa noturna foi interditada “em razão de várias irregularidades, entre elas, a venda de bebidas produto de descaminho, já que as mesmas foram adquiriras no Paraguai”.

O delegado afirmou que, apesar de ainda não ter casos de falsificação com o uso de metanol na Capital sul-mato-grossense, como os casos de São Paulo, reforça que mesmo nos casos de MS, a bebida traz riscos para a saúde.

“As falsificações [daqui] são em razão de envasamento, ou seja, a inserção de uma bebida de menor qualidade no vasilhame com o rótulo de outra de melhor qualidade e maior custo, mas que não deixa de ser um risco ao consumidor em razão da manipulação sem adotar as boas práticas, com alto risco de contaminação”, afirmou Vilas Boas.

ABRASEL-MS

Por conta dos casos recentes em São Paulo, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Secional de Mato Grosso do Sul (Abrasel-MS) emitiu uma nota para orientar os comerciantes do Estado sobre a compra de produtos sem procedência, ou com origem duvidosa.

A Abrasel no MS manifesta profunda preocupação com os casos de intoxicação por metanol registrados em São Paulo durante o mês de setembro. A falsificação e adulteração de bebidas são crimes graves contra o consumidor, que colocam em risco a saúde da população e geram prejuízos diretos aos estabelecimentos sérios e comprometidos com a legalidade”, começa a nota. 

“A entidade também reforça a recomendação do Ministério da Justiça de que bares e restaurantes, diante de qualquer suspeita, suspendam a venda de bebida e comuniquem as autoridades, estando atentos a preços baixos, lacres tortos, erros de impressão e odor semelhante a solventes, que devem ser tratados como suspeita de adulteração”, continua a Abrasel-MS.

A entidade ainda afirmou que está buscando, unida às autoridades locais, “medidas para evitar que situações como esta aconteçam em Mato Grosso do Sul”.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau), na Capital não foi registrado nenhum caso por intoxicação por metanol até ontem. A prefeitura afirma ainda que a Vigilância Sanitária também tem realizado vistorias rotineiras em estabelecimentos comerciais, tendo como um dos focos a originalidade das bebidas vendidas.

METANOL

Por conta dos casos de São Paulo, que até agora somam 22 – destes, 7 confirmados e 15 em investigação –, o titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Ricardo Lewandowski, anunciou ontem a abertura de inquérito pela Polícia Federal, para apurar a procedência do metanol e investigar uma possível rede de distribuição ilícita entre estados.

Paralelamente, a Secretaria Nacional do Consumidor instaurou inquérito administrativo para acompanhar as ocorrências e avaliar medidas adicionais relativas à proteção dos consumidores.

Já o Ministério da Saúde determinou que todas as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) realizem a notificação imediata de casos suspeitos de intoxicação exógena por metanol.

Uma nota técnica foi publicada ontem reforçando as orientações aos profissionais de saúde, em especial da rede de urgência e emergência, sobre protocolos de atendimento e registro.

Até agora cinco pessoas morreram sob a suspeita de terem ingerido bebida com metanol.

SINTOMAS

A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar ao óbito. Os principais sintomas são visão turva ou perda de visão e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese). Em caso de identificação dos sintomas, é essencial buscar imediatamente os serviços de emergência médica.

 

Matéria: Correio do Estado

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