Novas matérias do Ensino Médio não profissionalizam estudantes

O novo Ensino Médio, que começou a ser implementado no País em 2022, está causando controvérsias. Professores afirmam que a diminuição da carga horária das disciplinas consideradas tradicionais pode comprometer a formação crítica dos alunos e o ingresso no Ensino Superior.

A profissionalização, que foi uma promessa do Ministério da Educação quando aprovou este novo modelo de ensino, não está sendo efetivada em Mato Grosso do Sul. Apesar das novas disciplinas da grade curricular terem relação com as matérias tradicionais, elas não são profissionalizantes.

Na nova grade curricular estão disciplinas como: Desafio Você no Slam; Joga Fora Não… Óleo Velho Vira Sabão; A Matemática dos Medicamentos; Sorte ou Matemática; Produção Sustentável de Sabonetes e Outros Produtos; e Astrobiologia – Olhar Além do Céu.

O secretário de Estado de Educação, Hélio Daher, comentou sobre a nova grade curricular. Ele explicou que qualquer unidade curricular inserida no itinerário tem de ter uma finalidade, mesmo que seja fazer sabão, que tem relação com a aula de Química.

“A relação das disciplinas tem de ser construída com base na realidade do estudante, não pode ser uma disciplina aleatória”, disse Daher.

IMPACTO

Para educadores, a retirada de matérias como Filosofia e Sociologia e a diminuição da carga horária das disciplinas tradicionais, de 2.400 horas de aula para 1.800 horas de aula, podem gerar impactos na questão disciplinar e também sociais, como a formação do pensamento crítico.

A professora doutora Maria Lima, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), alerta que o resultado dessa reforma curricular é um desempenho mais superficial nos estudos de nível superior e um comprometimento da qualidade da formação e desempenho profissional.

“Resultando em sujeitos menos criativos, obcecados pelo ‘como fazer’ esvaziado de sentido ou que visam atender às necessidades mercadológicas, e não sociais”, diz a especialista.

O professor doutor Hamilton Perez Soares, associado ao Instituto de Física da UFMS, comenta que, com a diminuição da carga horária, a formação dos alunos estaria mais comprometida em relação aos novos conteúdos ofertados, que prometem ser profissionalizantes.

“Isso vai comprometer bastante o ingresso dos alunos da rede pública na disputa de áreas mais requisitadas, como Engenharia, Medicina e Odontologia, em que a Física, a Química e a Biologia têm um peso muito alto. Isso vai, de alguma forma, reduzir a competitividade dos alunos em relação à questão da participação em vestibulares e até no Enem”, destaca Soares.

Entretanto, o secretário de Educação afirma que, no ano passado, houve mais aprovações de alunos da rede pública em instituições de Ensino Superior do que em anos anteriores.

“A gente colocou, neste ano, mais de mil alunos no Ensino Superior, um valor que supera os outros anos da Rede Estadual de Ensino”, diz Hélio.

REAVALIAÇÃO

Em meio a diversos questionamentos sobre a continuidade do novo Ensino Médio, o secretário Hélio Daher vai conversar com o ministro da Educação, Camilo Santana, nos próximos dias, sobre uma série de problemas que vêm sendo levantados por professores, alunos e gestores públicos a respeito das mudanças escolares.

De acordo com Daher, voltar ao modelo antigo é um retrocesso, já que esse modelo que visa a escolha dos estudantes é também utilizado em outros países, como Estados Unidos e Austrália.

Mas, conforme o secretário, há pontos que precisam ser abordados em nível estadual e nacional. Entre os problemas encontrados em Mato Grosso do Sul está a língua estrangeira lecionada, que agora é obrigatoriamente o inglês.

Para Hélio Daher, seria importante o ensino do espanhol, principalmente em estados que fazem fronteira com países de língua espanhola.

Outro problema apontado pelo secretário é o transporte dos alunos do campo, pois, em razão dos horários diferentes de Ensino Médio e Ensino Fundamental, são necessários dois ônibus para o deslocamento.

“Estamos gastando mais, só que, apesar de gastar mais, não houve um aumento de recursos do transporte para dar amparo a isso. Então, a reforma causou um prejuízo financeiro, quando se trata do transporte do estudante do campo”, relata o secretário.

Além dos problemas relatados, que impactam diretamente o Estado, Hélio Daher vai abordar também problemas nacionais, como a implementação de laboratórios e tecnologias aos estudantes para realizar as novas disciplinas, e até mesmo a falta de professores em alguns estados.

Hoje, o secretário terá uma reunião on-line com o ministro e, na quinta-feira, o encontro será presencial.

Saiba: A lei que estabeleceu a reforma do Ensino Médio foi aprovada pelo ex-presidente Michel Temer, em fevereiro de 2017. O texto aprovado permitia que as escolas pudessem escolher como ocupar 40% da carga horária do Ensino Médio, enquanto 60% seriam compostos pelo conteúdo mínimo obrigatório direcionado pela Base Nacional Comum Curricular.

 

Fonte: Correio do Estado

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