O subtenente Silvio César Molina Azevedo, de 50 anos, ainda na PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), foi denunciado na última semana na Justiça Militar por mais um crime. Desta vez, ele responde por uma sessão de tortura que promoveu em 2017, quando buscava os assassinos de seu filho, Jefferson Piovezan Azevedo Molina, de 25 anos.
A denúncia foi apresentada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) no dia 8 de agosto, após o processo inicial de 2020 ser desmembrado. No entanto, é esclarecido que o irmão Márcio André Molina Azevedo, policial civil preso na Operação Codicia, também participou da sessão de tortura.
Assim, é relatado que o subtenente Molina passou a ‘investigar’ o assassinato do filho, que aconteceu em junho de 2017, na frente de uma lanchonete. No dia 15 de julho daquele ano, ele teria junto com o irmão e uma terceira pessoa abordado os dois homens que estavam em uma motocicleta.
Sessão de tortura
Estes homens foram torturados e o crime é comprovado por meio de uma gravação ambiental feita pela Polícia Federal, na época autorizada pela Justiça Federal, já que Molina era investigado pela organização criminosa que comandava. Segundo o MPMS, a gravação não deixa dúvidas de que as vítimas sofreram agressões para que confessassem terem participado do assassinato de Jefferson.
No entanto, os dois homens seriam inocentes no crime. A denúncia também relata que os irmãos Molina “torturaram com violência e grave ameaça, causando sofrimento físico e mental, para obter informação ou confissão”. Em determinado momento, o terceiro homem que agia na sessão de tortura chega a dizer que as vítimas tinham 5 minutos para confessarem, dando a entender que as mataria.
Sem conseguir as respostas que queria, o militar junto com o irmão elabora um termo circunstanciado de ocorrência. Nesse registro, ele alega que era seguido pelos homens e relata ameaça. Sobre os ferimentos, a alegação é de que as vítimas teriam sofrido uma queda.
O militar foi denunciado pelo crime de tortura, por constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa. Há aumento de pena, pelo denunciado ser agente público.
Irmãos policiais acusados de crimes
Conforme apurado pela reportagem, Márcio não foi alvo da Operação Laços de Família, que desmantelou a organização criminosa formada pelo irmão Molina e familiares. Silvio Cesar foi preso na Operação Laços de Família e, em dezembro de 2021, condenado a mais de 61 anos de prisão.
Atualmente afastado da corporação, mas não excluído, ele cumpre pena no Presídio Militar de Campo Grande. As investigações identificaram ainda estreita ligação da família com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
A denúncia inicial do MPMS chega a citar como inquestionável o crime de improbidade administrativa cometido pelos irmãos. Isso porque, enquanto policiais, teriam torturado as vítimas para obterem informações e ainda imputaram a elas falsamente crimes, para tentar legitimar a abordagem.
O processo foi desmembrado, já que Silvio deve ser julgado pela Justiça Militar, e ainda não há registro de condenações. O irmão, Márcio André, que na época estava em Mundo Novo, agora atuava em Ponta Porã, onde foi preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Quadrilha da Laços de Família
Ao todo foram 15 denunciados após a operação, todos condenados em dezembro de 2021 pelo juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal de Campo Grande. As penas variam de 3 a 61 anos de prisão, pela prática de tráfico de drogas, ocultação de bens e associação criminosa. A sentença determinou, ainda, pagamento de multas e perda de bens.
O subtenente Silvio Molina foi condenado a 61 anos, 11 meses e 21 dias de reclusão, além do pagamento de 6.576 dias-multa. O filho do PM, Jefferson, ainda operava como líder operacional, mas faleceu em uma emboscada preparada por rivais. Segundo a investigação, a sede da quadrilha ficava em Mundo Novo, onde o grupo atuava de forma semelhante à máfia: os chefes da organização eram da mesma família e tinham estreita ligação com o PCC.
Além do subtenente, os ‘gerentes’ da organização também receberam penas maiores. Eles tinham como função organizar os motoristas que transportariam as cargas. As penas para os gerentes variam de 20 a 31 anos de prisão. De acordo com a decisão da Justiça, a família envolvida na organização tinha papel decisivo ao liderar o esquema e evitava se relacionar com intermediários e gerentes.
As informações são de que os executores das ordens praticamente não tinham contato direto com a cúpula e privilegiavam encontros pessoais com intermediários. “Todos eram descritos como armados e violentos, tendo promovido uma guerra entre facções locais de Mundo Novo, culminando em perseguições, torturas e assassinatos de rivais”, diz a sentença.
Tráfico e laranjas
O grupo fazia o transporte rodoviário de grandes carregamentos de entorpecente, desde a fronteira com o Paraguai até o Nordeste do Brasil, além da prática de lavagem de dinheiro. Ao todo, foram apreendidas mais de 27 toneladas de maconha, que eram transportadas em caminhões e ‘disfarçadas’ em cargas diversas, como milho a granel e ração para cachorro.
Os caminhões utilizados, além de diversos outros bens, eram registrados em nome de ‘laranjas’ da quadrilha. A investigação, que começou em 2016, identificou entre 40 e 50 ‘laranjas’. Os outros integrantes, de grupos inferiores, eram chamados de ‘correrias’ e os de grupos superiores, identificados como ‘gerentes’.
Para impor medo e respeito aos adversários, o grupo praticava torturas em crimes violentos. A quadrilha era tão organizada que usava ao menos 10 empresas de fachada para lavar o dinheiro do narcotráfico.
A Polícia Federal ainda estima que, antes da operação, já tinha provocado um prejuízo de R$ 61 milhões à família com apreensões de drogas, joias, dinheiro e bens móveis e imóveis. Foram apreendidos R$ 310 mil para pagamentos de drogas, R$ 80 mil em joias e 5 embarcações, sendo quatro iates.
Fonte: Jornal Midiamax