O preço da arroba do boi gordo encolheu, em média, em R$ 100 no período de dois anos em Mato Grosso do Sul. O valor das cotações no mercado físico local reduziu em 31,53%, considerando os valores médios praticados em janeiro de 2022, quando o gado era comercializado a R$ 317,67.
Em janeiro deste ano, o preço da arroba era de R$ 217,52.
No comparativo com o primeiro mês de 2023, o valor praticado no mercado físico de MS também apresenta redução de 14,47%, já que em janeiro do ano passado o gado era comercializado a R$ 254,33.
Setembro do ano passado foi o ápice da queda nos últimos dois anos. A arroba do boi bateu R$195,67, diferença de apenas R$ 21,85 quando comparada ao preço praticado no fechamento de janeiro deste ano.
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, avalia o mercado da pecuária atual no Estado.
“De 2014 a 2019, esse limiar era próximo de R$ 150 a arroba, antes disso, em meados de 2012, esse limiar era de R$ 100, e por aí vai, então, é pouco provável que o mercado volte a tomar preços abaixo de R$ 200 como um novo normal, apesar da conjuntura baixista que se apresenta”, analisa.
O economista destaca as mudanças profundas que ocorreram no segmento de gado de corte no ano passado, que contribuíram para uma drástica transformação em Mato Grosso do Sul. “O ano de 2023 foi extremamente desafiador para o produtor rural do Estado, que acompanhou um ano de transição de perspectivas para o setor”, afirma.
Melo pontua que, com as alterações, as orientações para o mercado neste ano seguem as mesmas.
“Mantém-se no horizonte condições de demanda ainda ruins no mercado internacional, que também fazem com que os preços dos alimentos, em especial da carne bovina, permaneçam em patamares ainda baixos, distantes da realidade que vimos em 2021 e 2022, quando os preços da arroba estavam sendo negociados acima dos R$ 300, inclusive superando, em meados de março de 2022, os R$ 350 por arroba”, compara o economista.
O presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, faz um retrospecto, enfatizando o momento difícil da pecuária de Mato Grosso do Sul.
“Viveu um cenário de oscilações e quedas no valor da arroba do boi gordo durante todo o ano. Em alguns períodos, o valor da arroba chegou a experimentar alguma reação, mas assistimos aos preços andando de lado, com viés de baixa”, detalha.
Para Bumlai, a razão para o cenário ocorreu pelo aumento de oferta no mercado, aliado à queda no consumo da carne vermelha.
Cotações
Tomando como referência as cotações do primeiro mês do ano, é possível observar que há manutenção do valor do preço da arroba do boi gordo praticado no fim do ano passado, com custo de R$ 227,70, no dia 9, conforme dados da Granos Corretora.
Em meados de janeiro, os valores passaram a sofrer oscilações, chegando a R$ 228,19 no dia 16 de janeiro e a R$ 221,47 no dia 22. Desde então, o mercado físico do gado de corte em Mato Grosso do Sul segue registrando variação negativa, tendo a arroba chegado a R$ 216,70 no penúltimo dia do mês passado.
Já a arroba da vaca registrou retração de 0,65%, saiu de R$ 215,00, em 9 de janeiro, para R$ 213,61, no dia 17 . “A diminuição de demanda pode ser o principal fator para a pressão sobre os preços, porque no início de ano o consumo é naturalmente prejudicado em razão dos inúmeros gastos que impactam a renda das famílias”, justifica o Boletim Casa Rural, da Famasul, de janeiro.
Ao analisar as cotações anteriores, Melo relata que a curva de preços da arroba em MS saiu de R$ 275, em abril de 2023, para R$ 196, em meados de setembro do ano passado. “Esse movimento provocou uma das maiores crises que a bovinocultura do Estado já vivenciou, marcando 2023 como um dos piores anos da história do setor”, analisa o economista do SRCG.
Expectativas
No início deste ano, representantes do setor ainda demonstram insegurança e projetam um primeiro semestre de continuidade do panorama do ano que se findou. “Temos que o cenário continua praticamente o mesmo do ano passado, com escalas alongadas nas indústrias, o que deve ser sentido ao longo desses primeiros seis meses”, avalia Bumlai.
Melo corrobora a análise do presidente da Acrissul, ao indicar que as pressões de ofertas residuais, que impedem a recuperação dos preços, devem manter as cotações em níveis baixos.
“O que estamos vendo agora, neste início de ano, é uma continuidade desse quadro de excesso de oferta e escassez de demanda, onde a capacidade de escoamento da produção não acompanha o ritmo dos abates nos frigoríficos, que repassam para o preço este maior ritmo de estoques, com escalas de abate mais confortáveis”.
Para a segunda metade do ano, o presidente da Acrusul afirma que a tendência é de que o cenário comece a se inverter, retomando um novo ciclo de alta, com menos abates de fêmeas e redução na oferta de gado gordo.
Fonte: Correio do Estado