A primeira carga que será transportada na megaestrada que vai ligar o Brasil ao Chile, passando por Paraguai e Argentina, será carne bovina. A proteína “Made in MS” foi carregada na manhã desta quarta-feira (22), em uma unidade da Friboi, do grupo JBS, em Campo Grande e deve seguir viagem na madrugada desta quinta-feira (23).
O caminhão frigorífico com cerca de 13 toneladas de carne segue inicialmente para Porto Murtinho, no sudoeste do estado. Na cidade deverá fazer o desembaraço aduaneiro para poder seguir de balsa para Carmelo Peralta, no Paraguai. Depois cruzará todo o chaco paraguaio até chegar a Argentina e na sequência segue para o Chile, tendo como destino final a cidade de Iquique.
A previsão da empresa é que carga chegue no dia 29 de novembro em Iquique. “Essa nova opção de rota pode diminuir o tempo de entrega aos nossos clientes chilenos, por exemplo, em até 5 dias, agilizando o fluxo no transporte dos produtos”, aponta Bruno Correa da equipe de exportação da Friboi.
Caminhão carregado com carne vai fazer test drive aduaneiro da Rota Bioceânica — Foto: Pedro Ernesto/JBS
O transporte da carga faz parte da programação da expedição da Rota da Integração Latino-Americana (RILA). As dificuldades e gargalos encontrados no trajeto do caminhão serão apresentadas pelos integrantes da RILA no 4º Fórum dos Territórios Subnacionais do Corredor Bioceânico Capricórnio, que deverá reunir autoridades das quatro nações no dia 29 de novembro, em Iquique, no Chile.
A expedição, com mais de 100 pessoas e 35 veículos sai de Campo Grande na manhã de sexta-feira e vai percorrer o mesmo trecho do caminhão. Integram o grupo, empresários do setor produtivo, autoridades e representantes de instituições de ensino e pesquisa.
Com o avanço das obras que viabilizam fisicamente o corredor – pavimentação de quase 600 quilômetros de estradas no Paraguai e construção de uma ponte ligando o país, por Carmelo Peralta, ao Brasil, por Porto Murtinho (Ponte da Bioceânica) – o principal gargalo para a concretização do projeto é a questão alfandegária entre os quatro países.
Cordilheira do Andes, Argentina — Foto: Anderson Viegas/ g1 MS
O ministro de carreira do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), João Carlos Parkinson, defende a implementação nas aduanas fronteiriças dos quatro países de processos simplificados e centros de controle integrados, a exemplo do que ocorre no Passo de Jama, que fica na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre a Argentina e Chile.
O ministro aponta que com a integração digital e procedimentos antecipados haverá uma interferência mínima na estrada e na fronteira, com desembaraço aduaneiro feito entre 3 e 6 horas.
Ele apontou que o controle da carga deve ser limitado à simples verificação da documentação, da garantia e do lacre.
Parkinson disse recentemente ao g1 que em uma aduana não integrada, o tempo de um caminhão parado pode chegar a 72 horas, com um custo de R$ 3,3 mil, em razão das despesas com diárias, alimentação, seguro, multa por atraso. Em contrapartida, em uma aduana integrada, em que equipes dos dois países trabalhem lado a lado nas áreas de segurança, vigilância sanitária e desembaraço aduaneiro, esse tempo cai para 6 horas e o custo despenca para R$ 281,15.
Neste contexto, o setor produtivo e de logística, o Poder Público, instituições de ensino e pesquisa promovem em 2023 a terceira edição da Rila, que é organizada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog/MS).
Cláudio Cavol, presidente do Setlog/MS — Foto: Reprodução/TV Morena
“O caminhão vai passar por todas aduanas e todas as rodovias que compõem a rota da integração para que realmente possamos testar essa rodovia e mostrar as autoridades possíveis deficiências possam ser sanadas. A ponte está sendo construída a passos largos, a rodovia no Paraguai está sendo construída no cronograma, mas o que está nos preocupando são as aduanas que compõem a rodovia. Em Foz do Iguaçu, por exemplo, onde foi construída uma outra ponte ligando o Brasil ao Paraguai, apesar de concluída, ainda não está funcionando com a liberação da receita federal dos dois países. Então, não podemos correr esse risco em Porto Murtinho”, alertou o presidente do Setlog/MS, Cláudio Cavol.
Fonte: G1 MS