Em um mundo que valoriza a frieza e a pressa, este texto celebra a sensibilidade como potência — a coragem de sentir tudo, mesmo quando dói
Você já deve ter ouvido que é exagerado. Que leva tudo para o lado pessoal. Que sofre à toa. Que se importa demais, se entrega demais, reage demais. Como se “demais” fosse sempre um problema. Como se sentir intensamente fosse uma falha de fábrica, algo que você precisasse aprender a “controlar” para funcionar melhor no mundo.
E você tentou. Tentou ser mais frio. Tentou desligar. Tentou fingir que não ligava, que não doía, que não mexia tanto assim. Forçou-se a ignorar o incômodo, a engolir a mágoa, a rir quando queria sumir. Mas não adiantou. Porque tem gente que sente diferente. Sente-se com o corpo inteiro. Sente antes de entender. Sente como quem não sabe existir pela metade.
E isso não é defeito. Isso é sensibilidade. E sensibilidade não é fraqueza, é potência.
Você percebe coisas que ninguém nota. Você se conecta com detalhes que passam batido para os outros. Você entende o que não foi dito. Você sente o que o outro não consegue nem nomear. Isso é raro. Isso é valor. Mas num mundo que premia a praticidade, a frieza, o imediatismo, quem sente demais incomoda. Porque quem sente demais atrasa, questiona, precisa de silêncio, precisa de pausa, precisa de verdade. E o mundo não gosta disso. O mundo gosta de gente que segue em frente sem pensar muito. Que produz, entrega e não pergunta se está tudo certo.
Mas o seu jeito de ser não precisa caber nesse formato. Porque quem sente demais também ama com mais verdade. Também ouve com mais presença. Também se entrega com mais inteireza. É claro que dói. É claro que cansa. Viver com o peito aberto num mundo que vive de armadura machuca. Mas ainda assim, você sente. E é isso que te mantém humano.
Não se anestesia para agradar. Não se diminua para caber. Não tente se tornar uma versão funcional e insensível de si mesmo só para não incomodar. A sua sensibilidade é o que te faz perceber a vida em mais cores. É o que te permite escrever, criar, cuidar, acolher, entender. É o que faz você ser quem é. E talvez, por mais que doa, isso ainda seja o que o mundo mais precisa: gente que sente.
Não se trata de transformar dor em espetáculo. Nem de se afogar em emoção. Trata-se de entender que o que você sente é real. E que fingir que não sente não vai te proteger, só vai te desconectar. E não existe paz nenhuma nesse tipo de anestesia.
Então sinta. Com tudo. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que não caiba. Porque quem sente demais sofre, sim. Mas também vive com mais verdade. E tem coisa que só quem sente entende. O resto, apenas observa. De fora.






















