O vazio não é ausência, é espaço para o novo

Tem fases da vida em que tudo silencia. Os planos param. Os caminhos somem. As pessoas se afastam. O coração desacelera e até o corpo parece mais lento. É um tempo estranho. Você olha em volta e não vê movimento. Não sente sentido. Não encontra respostas. Parece que algo morreu. Parece que você ficou para trás.

E a primeira reação é tentar preencher. Colocar qualquer coisa no lugar do que se perdeu. Preencher o vazio com distração, com urgência, com barulho. Fingir que tá tudo bem, que não é nada, que logo passa. Mas esse impulso de preencher rápido é o que atrasa a chegada do novo. Porque o novo só entra quando há espaço. E espaço se faz com ausência.

A gente aprendeu a ter medo do vazio. Como se ele fosse sinal de fracasso, de abandono, de erro. Mas o vazio não é castigo. É pausa. É intervalo. É aquele momento entre uma coisa que não serve mais e outra que ainda não chegou. É terreno sendo revirado antes da semente. É casulo antes da asa.

Espiritualmente, o vazio é fértil. É onde a alma se ouve. Onde você descobre o que realmente importa, o que ficou em silêncio enquanto você corria. O vazio ensina a olhar para dentro, a se reabastecer com o que é essencial, a limpar o que estava empilhado demais para deixar algo novo florescer.

Não tente pular essa parte. Não corra para encher o silêncio. Permita-se atravessar. Permita-se não saber. Não ter. Não ser. Permita-se respirar no intervalo. Porque não é ausência. É espaço.

E quando a vida estiver pronta, ela preenche. Com o que faz sentido. Com o que é leve. Com o que é teu.

Autor do texto: @enricopierroofc

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