Você não é preguiçoso, Você está exausto

Tem dias em que levantar da cama parece coisa de outro mundo. O corpo não responde. A cabeça se arrasta. As tarefas mais simples viram um peso absurdo. E você olha para si com culpa, com raiva, com vergonha. Se chama de preguiçoso. Se acusa de não estar fazendo o suficiente. Começa a acreditar que tem alguma coisa errada com você. E talvez até tenha. Mas não é preguiça. É exaustão. 

O problema é que ninguém ensina a reconhecer os sinais da exaustão. A gente aprende desde cedo a empurrar o cansaço para debaixo do tapete. A se orgulhar de produzir sem parar, de entregar além do limite, de sorrir quando queria sumir. E essa cultura do desempenho vai comendo por dentro. Você começa a funcionar no automático. Vive para cumprir metas, para agradar, para não decepcionar. Até que uma hora quebra. Mas nem aí você para. Só sente mais culpa por não conseguir continuar fingindo que está tudo bem. 

E essa culpa é silenciosa. Corrosiva. Ela aparece quando você tenta descansar e não consegue. Quando se dá uma pausa e se sente inútil. Quando tira um tempo para si e passa o tempo todo pensando no que deveria estar fazendo. Porque o mundo grita produtividade o tempo todo. Porque ser cansado virou fraqueza. E quem se respeita é chamado de preguiçoso. Mas não é. Tem uma diferença imensa entre não querer fazer e não ter mais energia para fazer. 

Você não é fraco. Não é mole. Não é menos do que ninguém. Você só está esgotado. De pensar tanto. De tentar tanto. De segurar tudo sozinho. De não poder falhar. De não poder parar. Você está tentando ser funcional em meio ao caos, tentando manter a vida de pé quando não tem nem onde se apoiar. E isso, por si só, já exige demais. Exige mais do que qualquer um vê. Exige mais do que você mesmo consegue admitir. 

É preciso aprender a descansar. De verdade. Sem culpa, sem cobrança, sem a obrigação de justificar. Descansar não é luxo. É necessidade. Não é prêmio para quem foi produtivo. É condição mínima para continuar vivo. E se você só se permite parar quando já está no limite, talvez precise rever o que está chamando de rotina. Talvez precise entender que autocuidado não é um conceito bonito, é um grito. É o que impede você de se destruir em nome de uma imagem que nem é sua. 

O corpo fala. A mente também. E quando eles começam a falhar, não é defeito. É alerta. Não é preguiça. É pedido de socorro. E ignorar isso é uma forma lenta de se perder. 

Então, antes de se chamar de preguiçoso, pergunte-se: você descansou? Você dormiu o suficiente? Você comeu direito? Você teve tempo para respirar? Ou você só está tentando existir com a alma engessada e o corpo sem bateria?

Porque se você está tentando ser forte o tempo todo, uma hora o sistema colapsa. E aí, ninguém vai entender. Ninguém vai parar. Ninguém vai aliviar. Então talvez seja agora. Talvez seja hoje o dia de admitir: você não está falhando. Você só está cansado. E isso é humano. É legítimo. É urgente. 

Autor do texto: @enricopierroofc

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